Dez parlamentares e dezenas de desembargadores, juízes, secretários de Estado e prefeitos de 17 estados brasileiros estarão entre as 200 pessoas que serão indiciadas no relatório da CPI Nacional do Narcotráfico, que será votado amanhã, em Brasília. Os nomes estão sendo mantidos sob sigilo pela comissão, que se reuniu ontem em Brasília. A única pista vazada é que dos dez parlamentares, dois são deputados federais: José Alexandro (PFL-AC) e Augusto Farias (PPB-AL). Hoje a CPI tem novas reuniões marcadas. A intenção é traçar os pontos finais do relatório e fazer algumas adequações necessárias.
Os nomes de delegados - como Mário Ramos (ex-titular do Centro de Operações Policiais Especiais - Cope) e Ricardo Noronha (ex-delegado geral da Polícia Civil) - devem ser citados no relatório nacional. Nos bastidores, não estava descartada ainda a possibilidade de indiciamento do ex-secretário de Estado de Segurança Pública Cândido Martins de Oliveira.
A reportagem da Folha tentou levantar mais detalhes sobre os nomes dos indiciados, mas não conseguiu confirmar nenhum nome junto à CPI. "Os mesmos nomes deverão reaparecer neste relatório", garantiu o deputado federal Padre Roque Zimmermann (PT-PR), o representante do Paraná na comissão. Ele alegou que poucos nomes novos ligados a Polícia Civil constarão no relatório. As novidades ficarão por conta de empresários paranaenses que serviriam como "laranjas" no tráfico de drogas. Os nomes deles apareceram com a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de algumas pessoas citadas na CPI Nacional. "Não podemos dar nomes agora por um fator simples: os ratos principais vão fugir e os menores começarão a negociar com os grandes", justificou o deputado federal.
Padre Roque comentou, no entanto, que a CPI avançou principalmente com relação ao narcotráfico. As questões ligadas ao desmanche de veículos deverão ficar a cargo da CPI Estadual. O deputado federal Moroni Torgan (PFL-CE), relator da CPI, também resolveu manter mistério nos nomes dos citados no relatório final. Mas citou as propostas que serão apresentadas. Entre elas, a criação de uma Comissão Permanente de Segurança, Combate ao Narcotráfico e o Crime Organizado; sugestão de duplicação de pena para os traficantes que usarem crianças e adolescentes para efetuar a venda de entorpecentes; criação de um grupo especial na Polícia Federal para identificar pistas de pouso clandestinas. "O Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína no mundo. Temos que pensar em formas de abaixar estes índices que são alarmantes", declarou Torgan.
O relatório final da CPI juntou mais de duas mil páginas de documentos e depoimentos colhidos desde abril do ano passado.