Com a chegada do ano novo, as contas e impostos também aparecem para aterrorizar os brasileiros. O IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e o IPVA (Imposto Sobre Propriedade de Veículo Automotor) estão entre os maiores vilões daqueles que temem começar 2022 no vermelho.
Além das despesas previsíveis, existe ainda o fantasma da inflação, que, em 2021, fechou em alta no país, batendo 10,06%, elevando o preço de diversos itens essenciais, como o combustível e os alimentos. Com tais fatores, surge uma pergunta: o que esperar de 2022, logo após um ano cheio de obstáculos econômicos?
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Previsões e projeções
O professor de Economia da UEL (Universidade Estadual de Londrina) Carlos Caldarelli prevê que 2022 não terá uma inflação da magnitude do ano passado, mas não projeta muitas mudanças.
“Acredita-se que a inflação deste ano será menor, mas, ainda assim, é um fator preocupante para todos, com destaque às famílias mais pobres, que são mais atingidas pela alta de preços e mais castigadas pela não recomposição adequada de seus rendimentos”, afirma o economista.
Segundo Caldarelli, a inflação de 2021 continuará a assombrar os brasileiros, visto que os números do ano passado ainda servirão como base em diversos setores.
“Mesmo os preços acelerando menos este ano, o indicador do ano passado ainda será usado para reajustes de contratos, como escolas e aluguel, e, por isso, é um fator preocupante. O aumento do custo de vida, com destaque para alimentos, combustíveis e impostos, e o desemprego, que é questão da maior importância, são os pontos que mais preocupam”, pondera Caldarelli.
A inflação roeu a renda
Como milhares de pessoas, a vendedora Jenery Akiaha Micheletti, 20, notou em sua renda o peso da inflação de 2021 e torce para que o novo ano inicie com melhorias na economia.
“Antes, com uma renda familiar de dois salários, a gente comprava muito mais coisas que hoje em dia, que temos três rendas dentro de casa. Espero que tudo melhore o mais rápido possível”, diz.
A vendedora afirma que o começo do ano é o período mais complicado para manter as finanças em dia, tendo em vista que, muitas vezes, as contas do ano que passou nem foram quitadas ainda.
“No início de ano, as contas atrasadas dos outros anos e as atuais vêm todas de uma vez e a gente precisa escolher se come, compra o gás ou paga o IPTU. Conforme vão passando os anos, tudo vira uma bola de neve, que está cada vez mais difícil de desmanchar”.
Jenery ainda diz que o IPTU deste ano é uma das suas maiores dores de cabeça e está “absurdamente mais caro”, tendo que abrir mão de parte do salário para conseguir o desconto ofertado pela Prefeitura, que definiu um aumento de 10,73% no valor do imposto, em Londrina, este ano.
“É um valor que quadriplicou de uns cinco anos para cá, pois eu lembro que era cerca de R$ 400 se fizéssemos o pagamento à vista. Ano passado eu paguei R$ 1.300, este ano está em R$ 1.600. Vou utilizar meu salário mais uma bonificação do meu trabalho, pois, para o pagamento à vista, tem desconto. Estou estudando como fazer isso sem comprometer a minha renda”, finaliza, abalada.
A aposentada Madalena Gomes dos Santos, 59, afirma também estar sofrendo com a alta dos preços e dos impostos, tendo que voltar a trabalhar para pagar todas as contas em dia.
“Eu sempre consegui me manter com o que eu ganhava. Agora, eu tenho que procurar extras, mudar as marcas dos produtos para levar os mais baratos para casa e diminuir a compra de coisas supérfluas”, diz.
Com duas casas e um carro, a aposentada também ressalta a alta dos valores do IPTU e IPVA, totalizando três impostos a serem pagos.
“Um talvez eu pague à vista, o outro eu vou ter que parcelar, assim como fiz com o IPVA, porque não dá para pagar os dois de uma vez só. Subiu tudo, mas a aposentadoria não acompanhou. A única saída é fazer extras, já que a renda caiu bastante”, finaliza Madalena.
Como evitar a piora da situação?
De acordo com a pesquisa divulgada pelo SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) em 2018, dois em cada dez brasileiros recorreram a instituições financeiras na procura por empréstimos. Desse total, 22,7% afirmaram que o motivo do empréstimo foi para pagamento de dívidas. Caldarelli aconselha a não seguir esse caminho.
Segundo o economista Carlos Caldarelli, depender de dinheiro de bancos não é a melhor saída para pagar as contas, pois os juros podem fazer com que elas se multipliquem. Ele diz que a organização financeira ainda é a alternativa mais aconselhável.
“Como a economia segue uma dinâmica incerta, com pouca visibilidade acerca do futuro, a palavra é cautela e grande parcimônia na organização da vida financeira. Evite financiamentos, pois os juros estão em alta, e organize suas finanças para não precisar de recursos do sistema financeiro, pois esses estarão mais caros com a Selic em alta”, conclui Carlos Caldarelli.
*Sob supervisão de Luís Fernando Wiltemburg