A fabricante britânica de chocolates Cadbury quer disputar a compra da Chocolates Garoto quando a Nestlé colocá-la à venda, seguindo a determinação dada no último dia 4 pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). ''No momento em que a Nestlé oferecer o negócio vamos estar na parada'', afirmou Marcos Grasso, presidente da divisão brasileira, a Cadbury Adams, em entrevista exclusiva à Agência Estado.
O executivo elogiou o julgamento do Cade. ''Foi uma decisão acertada. Se houvesse uma decisão contrária, a Kraft (controladora da Lacta) e a Nestlé dominariam mais de 80% do mercado'', afirmou.
''A decisão, se for respeitada, vai fazer com que o mercado seja muito mais competitivo. Três companhias diferentes liderando o mercado vão poder oferecer, com bastante agressividade, preços e inovações ao consumidor.''
Grasso prevê uma disputa acirrada pela empresa capixaba. ''Uma empresa como a Garoto, que tem uma presença importante no Brasil, atrai empresas internacionais dispostas a fortalecer a sua participação de mercado'', disse ele, citando as norte-americanas Hersheys e Mars como potenciais concorrentes.
Segundo Grasso, o prazo de 150 dias dado para a Nestlé vender a Garoto não vai diminuir o preço da empresa capixaba. ''Acho que isso é uma desculpa para ganhar tempo. A Nestlé será obrigada, pela determinação do Cade, a contratar uma empresa independente para fazer uma avaliação, sob a supervisão também de outra empresa independente. O tempo é mais do que suficiente para avaliar o negócio com todo o cuidado.'' Ele disse supor que a Nestlé poderá obter algo perto dos US$ 250 milhões que gastou em 2002 na compra da Garoto.
Se comprar a Garoto, a Cadbury Adams preservará os empregos na sede da empresa, em Vila Velha, no Espírito Santo, garantiu Grasso. Ele lembrou que depois da decisão do Cade, a Cadbury sofreu ameaças de boicotes aos seus produtos - as principais marcas que tem no País são as balas Halls e os chicletes Bubbaloo, Clorets e Trident. ''Fomos atacados, diziam que a Cadbury era a inimiga número um do Espírito Santo'', disse.
De acordo com o executivo, a empresa fará novos investimentos na Garoto caso consiga comprá-la. ''Vamos fazer com que a Garoto seja uma marca forte, e não uma marca de combate como aparentemente eles (Nestlé) estão querendo fazer com que ela seja. É uma marca que tem muito valor'', disse.
Na avaliação do presidente da Cadbury Adams, não há fatos novos que justifiquem uma revisão da decisão do Cade. Grasso acrescentou que a autarquia não pode ser violada por interesses políticos. ''Tem-se que manter a independência técnica, a objetividade. Esses senhores (conselheiros do Cade) analisaram o caso durante muito tempo, tiveram muita informação disponível.''
Para ele, o investidor estrangeiro não se inibirá com as pressões políticas sobre a defesa da concorrência. ''Mas se eventualmente o Cade voltar atrás na decisão, aí sim estará mostrando que realmente talvez as leis no País não sejam tão sérias e que qualquer um pode acabar dominando o mercado.''