Uma pesquisa conduzida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que pelo menos 31 milhões de brasileiros têm 60 anos ou mais. Isso representa quase 15% da população residente no país. De acordo com o estudo, 1,8 milhão desses idosos moram no Paraná.
O aumento da expectativa de vida da população mundial e a diminuição da taxa de natalidade e de mortalidade contribuem para que o envelhecimento da população cresça. Por isso, pensar em cidades projetadas para esse tipo de público tem sido cada vez mais necessário.
O índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade, elaborado pelo Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, aponta indicadores gerais necessários para garantir a qualidade de vida do idoso: cuidados de saúde, bem-estar, finanças, habitação, educação, trabalho e cultura, engajamento e clima agradável.
HABITAÇÃO
Uma habitação para um morador idoso exige um projeto especial pensado nas necessidades e limitações comuns à faixa etária. De acordo com José Roberto Hoffmanno, engenheiro civil e Conselheiro da Câmara de Engenharia Civil do Crea-PR, políticas públicas devem ser pensadas e estudadas para atender essa demanda cada vez mais crescente.
Em princípio, o especialista sugere mudanças na legislação, principalmente, no Código de Obras do município. “Existem alguns projetos que já foram colocados no papel, mas nunca saíram disso. Em Londrina, por exemplo, na época em que fui presidente da Cohab, projetamos um condomínio para idosos que tinha uma série de fatores interessantes para facilitar e melhorar a vida das pessoas idosas”, conta.
Entre os requisitos importantes de uma habitação para o idosos estão o relevo do terreno, instalações internas adaptadas, como banheiros com barras de apoio, botões do pânico paraemergências e portaria com recursos humanos para situações de urgência.
“As torneiras, pias e os chuveiros precisam ter reguladores na altura do tronco, por exemplo. As portas são mais largas, possibilitando o giro de cadeira de rodas e terreno plano, sem escadas”, acrescenta.
Segundo Hoffmanno, câmeras internas na residência podem ser úteis para situações pontuais. “Dispositivos do tipo câmaras de vídeo, podem ser instalados em todos os espaços da residência e que estes possam ser acionados através botões de pânico em situações de emergência, alertando para a situação um porteiro treinado, que providenciará socorro. Sabemos que muitos idosos vivem sozinhos, são vulneráveis, têm problemas de saúde e podem passar mal. Todos esses recursos são importantes, previnem acidentes e podem salvar a vida de uma pessoa”, aponta.
INFRAESTRUTURA URBANA
As vias públicas das cidades, em geral, não atendem às necessidades do público idoso. Itens como declive, pavimentação das calçadas, sinalização horizontal de rampas e rampas de meio-fio são básicos.
“A mesma restrição em relação à mobilidade que umcadeirante tem, o idoso também. Sabemos que as cidades deixam muito a desejar quando o assunto é acessibilidade. Infelizmente, esse público acaba invisibilizado”, afirma.
Ainda segundo o especialista, os semáforos poderiam ser ajustados para atender os idosos, com tempo de passagem de pedestre maior que o usual e botões específicos. “Um idoso precisa de mais tempo para atravessar a rua do que um adulto ou jovem. O ideal é que esse tempo seja estendido e que ele tenha tranquilidade para ir e vir. Poderia haver um sinal amarelo piscante junto com o vermelho, por exemplo, que alertasse o motorista da necessidade de parada. Porém, penso que não é só uma questão de mudanças estruturais, mas culturais”, explica.
MELHORES CIDADES PARANAENSES PARA ENVELHECER
O Instituto de Longevidade, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, elenca as melhores cidades do Brasil para envelhecer. Na lista das 100 cidades grandes, oito são paranaenses: Curitiba (12º), Maringá (49º), Cambé (51º), Londrina (54º), Apucarana (61º), Umuarama (71º), Cascavel (77º), Pinhais (89º).
Pato Branco aparece em 43º lugar nessa pesquisa, entre as pequenas cidades mais preparadas para idosos. Clodomir Ascari, Diretor Administrativo do Crea-PR, conta que participou do grupo de trabalho que ajudou o município de Pato Branco a alçar o título de cidade amiga do idoso, certificado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2019.
“A cidade foi desafiada a trabalhar para que fosse incluída como amiga do idoso, de forma a atender requisitos que promovem o envelhecimento ativo, levando em conta as necessidades e capacidades dos idosos. Os pilares principais são a saúde, cujo investimento sempre foi alto; a participação do idosos nas decisões do município e a segurança, que é muito efetiva e com baixas taxas de criminalidade”, explica.
POLUIÇÃO DO AR
A poluição do ar é nociva para os idosos e pode provar doenças graves. É o que diz um estudo publicado pela Universidade de Harvard. De acordo com pesquisadores da Chan SchoolofPublic Health, quem está exposto à poluição do ar tem maior risco de desenvolver demência.
A publicação aponta que hoje existem mais de 57 milhões de pessoas em todo o mundo com demência. Esse número pode saltar para 153 milhões até 2050 e, deste total, até 40% delas estará ligada a causas modificáveis, como a exposição de poluentes atmosféricos.
De acordo com Rafael Ciciliato, engenheiro ambiental e Conselheiro do Crea-PR, a principal fonte de poluição do ar é o veículo automotor, movido a combustíveis fósseis. “Os óxidos de nitrogênio, enxofre e materiais particulados estão presentes nesses combustíveis”, diz.
Para o especialista, a redução da frota particular de veículos é uma das soluções para a diminuição da poluição do ar, mas é preciso investir em transporte coletivo. “O transporte coletivo é pouco eficiente e demorado. Desta forma, a população prefere comprar um carro próprio. Outra solução é o uso de veículo elétrico, que não tem emissão na atmosfera, mas ainda é pouco acessível economicamente para a população”, analisa.
“Nas indústrias, o uso de filtros auxilia na redução da poluição atmosférica. Além disso, a instalação desses complexos deve ser feita em lugares mais afastados das cidades, como zonas rurais”, finaliza o engenheiro.