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Fã morreu durante show

Um ano após shows de Taylor Swift, legislação sobre cambismo e água emperra

Pedro Martins - Folhapress
29 nov 2024 às 14:36

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- Divulgação
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Do aeroporto às estações de metrô, do McDonald's aos restaurantes mais finos, Taylor Swift transformou a paisagem de Toronto nos últimos dias com sua turnê, a "The Eras Tour", que chega ao fim na próxima semana, em Vancouver. Suas músicas dominaram as trilhas sonoras dos principais pontos turísticos e inspiraram exposições de fotografias e figurinos das apresentações.


No entanto, enquanto no Canadá a estrela do pop apenas decorou as cidades, no Brasil, onde se apresentou há um ano, ela deixou um impacto mais profundo, inspirando mudanças na legislação que regula os shows e festivais no país, com propostas que animaram os fãs, ávidos por mais conforto e segurança nesses eventos. Mas eles agora temem que nenhuma mudança se concretize.


É o caso da "Lei Taylor Swift", como ficou conhecido um projeto de lei criado após confrontos entre fãs e cambistas com intervenção policial nas bilheterias, e uma portaria que obrigou os produtores a distribuírem água gratuitamente em eventos de grande porte, uma resposta à morte de uma fã da artista americana num de seus shows por complicações do calor no Rio de Janeiro.


'LEI TAYLOR SWIFT'


A "Lei Taylor Swift" está há seis meses parada na mesa do senador Randolfe Rodrigues, do PT, que precisa emitir um relatório antes de o projeto seguir para sanção do presidente Lula. Questionado por telefone desde terça-feira, Rodrigues não respondeu quando pretende apresentar o parecer ou se vai delegar a tarefa a outro parlamentar.


O projeto de lei, que também impacta eventos esportivos, quer tornar crime a revenda de ingressos a preços superiores ao que é cobrado nas bilheterias oficiais, com pena de um a dois anos de detenção, além de multa correspondente a cem vezes o valor da entrada.


Nos Estados Unidos, onde também houve caos nas vendas, novas regras impedem a transferência de titularidade de ingressos nos três dias anteriores aos shows de Swift. Além disso, a produtora Live Nation, responsável pela turnê no país, está sendo investigada por suspeita de monopólio, já que controla a Ticketmaster, encarregada das bilheterias, numa estrutura que se assemelha à da Time for Fun e de sua afiliada Tickets for Fun no Brasil.


ÁGUA DE GRAÇA


Já a distribuição gratuita de água iria expirar em dezembro. Após o contato da reportagem nesta quarta-feira, o Ministério da Justiça prorrogou a medida pela terceira vez -agora ela vale até junho- e indicou a intenção de tornar a obrigatoriedade fixa, por meio de um decreto a ser publicado no ano que vem.


Mas a iniciativa é considerada insuficiente pelo público. A norma não especifica como a água deve ser disponibilizada -se em bares onde também é comercializada ou em pontos específicos- e deixa ao capricho dos produtores a decisão sobre quais garrafas ou copos podem ser levados aos eventos.


O secretário nacional do consumidor, Wadih Damous, reconhece que as regras precisam ser mais específicas e diz que ainda está debatendo quais fatores caracterizam um evento de grande porte, que deve se submeter ao decreto, e de quais materiais podem ser feitos os recipientes com água, com "nada que possa machucar outras pessoas".


Outra queixa recorrente é a distância entre os bebedouros dos estádios, localizados sob as arquibancadas, e o gramado, onde a maior parte do público se concentra. Para reabastecer uma garrafa, os espectadores precisam atravessar uma multidão, o que torna a tarefa incômoda e demorada, enquanto para comprar bebidas, inclusive copos de água, há diversos bares pelo espaço e vendedores ambulantes.


MORTE DE FÃ


Também incomoda os fãs de Swift que a investigação sobre a morte de Ana Clara Benevides Machado, aos 23 anos, não foi concluída e ninguém foi responsabilizado pela tragédia, que aconteceu na estreia da turnê no Brasil.


Segundo o advogado da família Benevides, João Paulo Sales Delmondes, a polícia teria justificado o atraso na apuração por conta de uma mudança no comando do 24º Distrito Policial do Rio de Janeiro, responsável pelo caso.


A corporação afirma ter ouvido testemunhas e analisado laudos periciais. "Essa demora gera desconfiança e a sensação de que um caso que chocou o mundo não está sendo tratado com seriedade", diz o advogado.


CASO DE JUSTIÇA


Enquanto isso, a Time for Fun, a T4F, produtora que trouxe Swift ao Brasil, enfrenta uma onda de processos judiciais. O público pede indenizações de R$ 10 mil a R$ 30 mil por causa do cancelamento da apresentação marcada para o dia seguinte à morte de Benevides, suspensa a menos de duas horas do início previsto, devido ao calor.


À época, em vídeo publicado nas redes sociais, Serafim Abreu, CEO da T4F, reconheceu que a empresa poderia ter tomado atitudes como criar áreas de sombra nas zonas externas no estádio do Engenhão, no Rio, onde os fãs aguardam por horas a abertura dos portões, ou alterado o horário dos shows.


Embora os casos ainda estejam em tramitação na Justiça, uma jurisprudência favorável à T4F tem ganhado força. Os tribunais têm decidido que o cancelamento ocorreu em circunstâncias fora do controle da produtora, o que a isenta do pagamento de indenizações.


Parte dos fãs de outras cidades e estados que viajaram ao Rio insistem em seus prejuízos, já que não puderam permanecer na cidade para assistir ao show, remarcado para dois dias depois. Eles alegam ter arcado com custos como passagens, hospedagem e alimentação sem a chance de ver Swift.

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