Militantes de coletivos negros fizeram no último sábado (11) um protesto em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, lembrando a morte de um menino de 10 anos em uma ação policial na região do Morumbi, na zona oeste de São Paulo. No último dia 2, o menino estava com um amigo, de 11 anos, em um carro roubado de um condomínio do bairro.
Os policiais militares que atenderam a ocorrência alegam que o menino, que estava ao volante, disparou contra eles e que o balearam para se defender.
Vídeos de câmeras de segurança mostram o carro desgovernado, depois parado e um policial se aproximando e fazendo o disparo que atingiu a criança na cabeça. Não foram encontradas marcas dos tiros que teriam sido efetuados pelo garoto. Segundo os policiais, isso porque o menino fez os disparos com o vidro abaixado e fechou a janela pouco antes de ser baleado.
O grupo levou cartazes que classificam o elevado número de mortes de jovens nas periferias como um genocídio da população negra. O ato se opôs a outra manifestação, da qual participaram moradores da região do Morumbi, bairro onde está localizado o Palácio dos Bandeirantes, em apoio à ação dos policiais.
Durante a maior parte do tempo, os protestos ficaram em calçadas opostas, com os manifestantes trocando provocações. Porém, os participantes do ato favorável aos policiais chegaram a se aproximar dos militantes dos movimentos negros para discutir e até trocaram ofensas. Não houve, no entanto, nenhuma agressão.
Versão inconsistente
A versão dos agentes tem, na opinião do ativista Gilson Nascimento, diversas inconsistências. "De dentro de um carro, dirigindo em perseguição, essa criança não está em condição de dar tiros e expor a vida desse policial", disse Gilson. Ele lembra que, em outros casos, foi comprovado que policiais fraudaram provas para acobertar execuções classificando-as de reação de legítima defesa.
"Estamos aqui para dar voz ao Ítalo, uma criança de 10 anos foi assassinada pela polícia. Nós, que moramos em periferia sabemos, qual é o modus operandi [modo de agir] da polícia. Plantar arma e forjar crimes são as coisas mais comuns que existem", acrescentou.
"Aceitar que uma criança de 10 anos tome um tiro na cabeça e chamá-la de criminoso é muito mais cômodo do que raciocinar por que essa criança chegou a uma situação em que ela expusesse a sua vida", destacou Nascimento, ao falar da importância de discutir o contexto social em que vivia o garoto e vivem inúmeros jovens nas periferias das grandes cidades.
A recepcionista Keyla Luenda , de 27 anos, disse que foi ao protesto para pedir o fim da impunidade em caso de execução cometidas por agentes do Estado. "A gente luta para que isso aconteça e que cada vez mais policiais como esses possam ir para a cadeira", ressaltou a jovem, que também perdeu o irmão, vítima de uma ação policial.
"As pessoas têm que saber que isso acontece diariamente, não é só pelo Ítalo [nome do menor morto pela polícia] ou por meu irmão, é por toda a população", afirmou a recepcionista.
Em defesa dos policiais
Do outro lado da rua, o deputado federal Major Olímpio (SD-SP), defendeu a atitude dos policiais. "O resultado morte não é desejável nunca. Mas eu prefiro saber da morte de um criminoso-mirim de dez anos, do que de um policial, pai de família que estava ali em função pública", ressaltou o parlamentar que tem atuação ligada a temas relacionados a segurança pública e a aos interesses corporativos dos policiais militares.
O presidente do Conselho de Segurança do Portal do Morumbi, Celso Neves Cavallini, também se manifestou favoravelmente a ação dos agentes. "[Merece] elogio, porque ele tirou da rua um criminoso. Não importa a idade dele", enfatizou Cavallini, que preside um dos conselhos comunitários que analisa as questões relativas à segurança em cada bairro. Para ele, o fato de um dos garotos estar vivo mostra que os policiais apenas reagiram contra uma agressão. "Se o policial tivesse a ideia de matar, teria matado os dois, não um".