A Polícia Civil tentará recuperar os 178 cães da raça beagle levados por ativistas durante a invasão do Instituto Royal, na madrugada de sexta-feira, 18, em São Roque, no interior de São Paulo, mas não pretende devolvê-los à instituição. O delegado que dirige a investigação, Marcelo Pontes, disse nesta segunda-feira (21) que os cães de raça eventualmente recuperados serão postos sob a guarda de uma entidade de proteção dos animais "até que se apurem as denúncias de maus-tratos que ocorreriam naquele local".
Do total levado da entidade, apenas duas fêmeas tinham sido encontradas ainda no sábado (19). Elas estão sob os cuidados da advogada Viviane Jorge Benini Cabral, que assinou termo de fiel depositária. Viviane acompanhava o deputado Ricardo Tripoli (PSDB-SP), que esteve na delegacia. Pontes começa a ouvir nesta terça-feira (22), os funcionários do instituto sobre a invasão e depredação do local, onde os cães eram usados como cobaia em testes de remédios. Os depoimentos seriam tomados nesta segunda-feira, mas os empregados não foram localizados porque o Royal ainda não voltou a funcionar.
O delegado que dirige a investigação disse que a apuração averiguará as denúncias de crime contra os cachorros e também os de furto qualificado e de danos que aconteceram no local. "Houve concurso de agentes e a ação ocorreu no período noturno, o que agrava os crimes", disse. Depois de ouvir trabalhadores e representantes do instituto, serão intimados para depor os participantes da ação, entre eles os manifestantes que foram à polícia denunciar a suposta crueldade por volta de meia-noite da quinta-feira, 17.
"Vamos começar por eles porque já estão identificados aqui, mas todos os que forem apontados como participantes da invasão terão de comparecer à delegacia." A apresentadora Luísa Mel está entre as que serão indiciadas pela invasão, de acordo com Pontes. "Estamos levantando as identidades pelas filmagens feitas no local e também pelas redes sociais."
Confronto
Outros quatro inquéritos abertos na delegacia apuram o tumulto que aconteceu no sábado, durante manifestação e tentativa de nova ocupação do Royal com a participação de mascarados adeptos à tática Black Bloc. Houve confronto com a Polícia Militar (PM) e seis pessoas ficaram feridas. Os mascarados lideraram ataques a uma viatura da PM e a dois carros de uma emissora de televisão, depredados e queimados. Quatro pessoas foram presas em flagrante - Guilherme Magalhães Chelles e Marcos Vinicius Pereira Cruz, os dois de 18 anos, acusados de destruir automóveis da emissora, pagaram fiança e foram liberados ainda no sábado.
Rafael de Souza Pinheiro, de 25 anos, e Vinícius Grenhalgnin dos Santos, de 21, foram autuados por dano qualificado, uma vez que são suspeitos de ter atacado também uma viatura, mas foram soltos domingo, após alvará concedido pela Justiça. Todos negaram serem adeptos ao Black Bloc. O delegado seccional de Sorocaba, Marcelo Carriel, disse nesta segunda-feira que a denúncia de maus-tratos feita pelos ativistas ficou prejudicada. "Havia necessidade de uma perícia nos cães, mas eles foram subtraídos." Carriel considera que suposta crueldade não justifica a ocupação e o saque ao instituto.
"Não se pode admitir que, com a justificativa de maus-tratos, se pratique outros crimes." De manhã, ele reuniu-se com o delegado de São Roque para discutir a investigação. O delegado seccional disse que há mais de um ano o Ministério Público (MP) investiga as acusações e não constatou maus-tratos. Após duas vistorias no local, foram emitidos laudos de que o Royal cumpria todas as exigências legais. "Se não se aceita que cães e outros animais sejam usados como cobaias, que se mude a lei." Em nota, o instituto anunciou que buscará todos os caminhos institucionais para fazer valer os direitos perante a violência da madrugada de sexta-feira.
"O instituto reconhece o direito à livre-manifestação, mas não pode e não vai aceitar ultimatos e pressões realizadas com violência e ao arrepio da lei." De acordo com o órgão, a invasão constituiu ato de grave violência, com prejuízos para a sociedade brasileira, pois dificulta o desenvolvimento de pesquisa científica no ramo da saúde.
"Com a invasão, foram perdidas pesquisas e um patrimônio genético que levou mais de dez anos para ser reunido, fruto do esforço pessoal de pesquisadores que dedicaram toda a sua vida à ciência." Segundo a nota, o tempo necessário para se recompor este conhecimento perdido põe o Brasil em desvantagem em relação a outros polos de desenvolvimento científico no mundo.
"Com a invasão, perde toda a sociedade brasileira, que deixará de ter a sua disposição medicamentos inovadores para tratamento de doenças como o câncer, a preços acessíveis." O instituto negou os maus-tratos e disse que todas as atividades são desenvolvidas sob a supervisão de órgãos de fiscalização nacionais e à luz de protocolos internacionais.