O Ministério Público de São Paulo instaurou um inquérito civil para obrigar o Tinder a compartilhar informações com as autoridades em casos de sequestros cometidos através do aplicativo.
O inquérito é promovido pelo Gaesp (Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial) em conjunto com a DAS (Divisão Antissequestros), da Polícia Civil. Segundo o delegado da unidade, Fábio Nelson Fernandes, o procedimento foi instaurado após a plataforma dificultar o acesso da polícia a informações que ajudem a identificar os sequestradores.
A investigação está aberta ao menos desde maio, quando a Folha de S.Paulo contatou o Ministério Público. O órgão, porém, informou que não vai se manifestar sobre o caso, uma vez que o procedimento está sob sigilo.
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O Tinder foi considerado o melhor aplicativo de relacionamentos pela maioria dos entrevistados na pesquisa "O Melhor da Internet", realizada pelo Datafolha. O aplicativo foi citado por 37% das 1.558 pessoas entrevistadas no levantamento.
Questionado a respeito do inquérito, o Match Group, responsável pela plataforma, afirmou por meio de nota que coopera com as autoridades e que um portal exclusivo para o contato com órgãos de segurança está em processo de criação.
"Cooperamos com as autoridades dos mercados em que atuamos, fornecendo informações para auxiliar em suas investigações. Com o objetivo de aperfeiçoar os processos com as autoridades, o Match Group foi a primeira empresa do setor a lançar um portal exclusivo para as autoridades. Com uma equipe de atendimento dedicada, estamos no processo para lançar este portal no Brasil e em outros países"
O delegado afirma que a frequência deste tipo de crime aumenta desde 2021 e que, hoje, representa a maioria dos crimes de sequestro em São Paulo.
"Esse crime como conhecíamos antes, com duração de cinco a dez dias e ligações telefônicas para a família da vítima quase não existe mais. Hoje, a cada dez sequestros, nove envolvem aplicativos de relacionamento."
O crime se inicia com a criação de um perfil falso em aplicativos de relacionamento, por onde os criminosos se conectam com a vítima e marcam um encontro. Quando chega ao local marcado, a vítima se depara com homens armados e é levada a um cativeiro, onde é forçada a fazer transferências bancárias.
Este foi o método utilizado por criminosos nesta segunda-feira (26), quando um médico de São Roque perdeu R$ 180 mil após sofrer um golpe deste tipo.
Fernandes afirma que, desde o início de 2023, foram registrados 27 casos deste tipo em São Paulo, dos quais três ainda não tiveram os suspeitos identificados ou presos. As vítimas são, geralmente, homens de 30 a 50 anos.
"Esses criminosos avaliam o perfil dos homens em redes sociais e escolhem a vítima por verem fotos de carros, jóias e bens de alto valor, que indicam uma boa condição financeira."
Segundo Rodrigo Fontes, porta-voz do Tinder, a empresa busca educar os usuários para impedir que ocorram casos deste tipo.
"Hoje na nossa plataforma, temos uma série de materiais que orientam o usuário sobre quais comportamentos são suspeitos e do que desconfiar antes de marcar um encontro. A segurança de quem usa o Tinder é e sempre foi uma das nossas prioridades."