Luiz Fernando da Costa, motorista do caminhão causador do acidente que matou quatro pessoas na Linha Amarela, na zona norte do Rio, afirmou ao delegado Fábio Asty, da 44ª DP (Inhaúma), que não percebeu o acionamento da caçamba que derrubou a passarela.
"Ele explicou de forma lúcida que pegou o caminhão em Água Santa (zona norte do Rio) e iria para a Rodoviária Novo Rio buscar entulho. Após a altura de Pilares, ele não percebeu que a caçamba tinha levantado. A perícia vai nos dizer se houve algum problema mecânico. O foco da investigação é esse, saber se houve um acionamento involuntário", disse Asty.
O motorista afirmou ao delegado que trafegava a 85 km/h - acima da velocidade máxima permitida, que é de 80 km/h na faixa em que ele trafegava. Nas outras faixas o limite é de 100 km/h.
Faixas liberadas
Por volta das 16h30 desta terça-feira foram liberadas duas faixas da Linha Amarela no sentido Barra da Tijuca. A passarela derrubada pelo caminhão foi cortada em três partes e duas já foram retiradas. Uma faixa permanece interditada para remoção do trecho remanescente da passarela. A pista no sentido centro continua interditada.
Engenheiros
Três engenheiros ouvidos pela reportagem concordaram: o choque da caçamba do caminhão foi suficiente para derrubar a passarela da Linha Amarela, sem que, necessariamente, ela tivesse alguma falha estrutural. O fato de o caminhão trafegar a 85 quilômetros horários fez com que o peso jogado contra a estrutura fosse de, aproximadamente, cem toneladas, o que faria tombar qualquer passarela metálica, de acordo com eles, ou até mesmo uma de concreto.
O engenheiro de transportes Luiz Carneiro, diretor do Clube de Engenharia, levantou três hipóteses para o acidente: de o motorista ter alçado a caçamba para esconder a placa, uma vez que dirigia na Linha Amarela antes do horário permitido; de ter acionado, acidentalmente, a elevação da caçamba, e não ter percebido ou tido tempo para abaixá-la, e ainda de a caçamba ter subido por um defeito mecânico. "Não havia nenhum motivo para ele estar com a caçamba para cima", afirmou. De acordo com Caneiro, a passarela não foi - e não tem mesmo de ser - dimensionada para esse tipo de colisão. "Se fosse, estaria superdimensionada, seria um gasto de dinheiro à toa." Ele e outros dois especialistas calcularam em 15 ou 20 toneladas o peso da ponte para pedestres.
Moradores de favelas que ficam à margem da Linha Amarela afirmaram que aconteceram acidentes semelhantes anteriores, mas que não chegaram a causar abalo. "A Lamsa (Linha Amarela S.A.) chegou a fazer manutenção no ano passado, depois de uma batida, mas verificaram que não tinha abalado", disse o líder comunitário Alexander Gomes da Silva, do Complexo União de Del Castilho. "É a terceira vez que um caminhão bate ali", afirmou o morador Luís Felipe Silva de Lima, da Favela do Guarda.
O engenheiro especializado em estruturas Antônio Eulalio, conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) do Rio, lembrou que esse tipo de passarela para pedestres é projetada para suportar 500 quilos por metro quadrado, o equivalente ao peso médio de sete transeuntes.
O engenheiro calculista Manoel Lapa, também especialista em estruturas, ressaltou que nesse tipo de projeto não é levado em conta o risco de um acidente como o desta terça-feira. "A probabilidade é muito pequena. Se for considerar todo tipo de risco, o custo de construção fica muito alto". Carneiro apontou que essas ocorrências não são tão raras assim. Ele citou o caso de uma ponte, na Avenida Brasil, que desabou parcialmente em 2011 com o choque de um caminhão que transportava um trator.