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Monogamia é puxada pela colonização e marcada por religião e economia, dizem pesquisadores

Renata Moura - Folhapress
18 jun 2024 às 12:45

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- Pexels
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Mesmo para os pesquisadores, a pergunta "de onde vem a monogamia?" pode assustar. A psicanalista e doutora em sociologia Mônica Barbosa é direta ao replicar: "Como se diz na Bahia, quem souber essa resposta morre", diz, usando uma expressão local para algo difícil de explicar.

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A origem, longe de ser natural ou romântica, está, segundo estudiosos, muito mais relacionada a interesses religiosos, econômicos e de dominação.

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"Não há consenso científico sobre a monogamia, mas uma série de teses sobre o seu surgimento. E não é possível pensar na consolidação dela sem considerar o que chamamos de modernidade, um período longo, dos últimos 500 anos, marcado pelo colonialismo, pela hegemonia da cultura cristã, e que tem o capitalismo como base", diz Barbosa.


A socióloga, parte do grupo Afetos, Políticas e Sexualidades Não-Monogâmicas, da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), observa que "a monogamia é a norma" e está longe de ser "uma moda que passou".

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"Temos uma produção cultural massiva que nos induz a pensar que podemos viver um único amor de cada vez. Além disso, temos um regime político, econômico e social que favorece as relações monogâmicas. O status social do casamento, da família, os financiamentos que você consegue fazer em casal, o aluguel que você divide, a sensação de amparo, num Estado que não nos ampara. A lista de ilusões é longa."


O relacionamento romântico e sexual com um único parceiro ou parceira compõem, segundo a professora do Instituto de Psicologia da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Edna Ponciano, uma configuração normativa que surge com o Estado moderno e com a preocupação de manter a ordem social e econômica, restringindo a herança a um contrato matrimonial.

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"Ela é associada a valores éticos e morais. Pode funcionar, mas nem sempre. O amor romântico com a exigência de exclusividade não funcionam para todo mundo", diz, apontando que o maior problema da monogamia é a imposição, que gera sofrimento a quem fracassa em manter a exclusividade.


No livro "Monogamia", do psicanalista britânico Adam Phillips, a monogamia é associada a ingredientes como honestidade, afeto, segurança, escolha, vingança, desejo, lealdade, mentiras, risco, direitos, culpa, amor e violência.

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"Se pensarmos a partir da América Latina, podemos dizer que a monogamia começa a se instaurar como norma a partir da colonização, no século 16, que deposita nos jesuítas a missão de impor os valores da Igreja Católica aos povos originários", diz Barbosa.


"A instauração desse sistema como regra era parte do projeto de disciplinamento da sexualidade indígena, e o não cumprimento dela era severamente punido com práticas que podiam levar à morte, como a tortura e o banimento."

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O pesquisador e doutor em filosofia espanhol Pablo Perez Navarro, da Universidade de Coimbra e se debruça sobre frentes como o poliamor e a monogamia no Brasil contemporâneo, em parceria com a UFBA (Universidade Federal da Bahia), observa que a estrutura monogâmica tem origem associada às culturas patriarcais.


Um momento que considera crítico para a construção desse regime ocorre por volta da Revolução Francesa, quando o casamento civil é instituído, e, poucos anos depois, quando é promulgado o Código Napoleônico –conjunto de leis civis estabelecido por Napoleão Bonaparte no início do século 19. "Digamos que o Estado começa a dividir com a Igreja a tarefa de santificar esse tipo de união, só que agora de forma administrativa, burocrática", diz Navarro.

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"É um momento juridicamente muito significativo para entender o lugar que a monogamia ocupa no presente. É um momento em que também se institui uma noção que tem tudo a ver com a organização monogâmica dos afetos, das relações de parentesco, da reprodução, que é a noção de ordem pública. É nesse código em que a ordem pública é referida como o limite para tudo que cidadãos e cidadãs podem acordar entre eles, incluído o acordo matrimonial."


Essa ordem, segundo o pesquisador, está ligada à necessidade de se impor um limite aos arranjos familiares e de ver instituída a monogamia como modelo único. "Muitas vezes para explicar o que significa a ordem pública na atualidade, se usa como exemplo a ideia de que a monogamia é o limite do que se pode reconhecer, ou muitas vezes tolerar ou permitir por parte do Estado."


Segundo o filósofo, o problema é que existem diversas formas de relação que escapam a essa definição monogâmica –e elas acabam demonizadas e censuradas socialmente e juridicamente.


"Temos que construir uma ordem social que não imponha um modelo relacional, seja a monogamia, seja qualquer outro."


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