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Caso Henry

Laudo aponta 23 lesões em Henry Borel e descarta acidente doméstico

Folhapress
12 abr 2021 às 15:08

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- Tânia Rêgo/ Agência Brasil
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O menino Henry Borel, 4, que morreu no dia 8 de março, sofreu 23 lesões pelo corpo, de acordo com os laudos do IML (Instituto Médico Legal) e da reprodução simulada, que o UOL teve acesso.

Peritos descartaram a possibilidade de acidente doméstico com a suposta queda de Henry da cama, versão contada pelo vereador Dr. Jairinho e a mãe do menino, Monique Medeiros. Segundo o documento, todas as lesões foram "produzidas mediante ação violenta (homicídio)" e aconteceram entre 23h30min e 03h30min.

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No documento, de 36 páginas e assinado por oito peritos criminais, são citadas as 23 lesões encontradas no corpo de Henry, entre elas: escoriações, hematomas, hemorragias em três partes da cabeça, infiltrações, contusões nos rins, pulmão e laceração no fígado. A causa da morte foi hemorragia interna e laceração hepática causada por uma ação contundente, como apontado pelo laudo da necropsia.

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O laudo da reconstituição, realizada no dia 1º de abril sem a presença do casal, mostra que as marcas constatadas no corpo de Henry são sugestivas de várias "ações contundentes e diversos graus de energia, sendo que as lesões intra-abdominais foram de alta energia".

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Além disso, foram indicadas hemorragias em três partes da cabeça do menino e todas elas correspondem a ações contundentes distintas, ou seja, "uma queda de altura não produziria tais lesões. A quantidade de lesões externas não pode ser proveniente de uma queda livre", como afirmada pelo casal.


Para Marcos Camargo, presidente da APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais), essas ações contundentes seriam pancadas. Algumas das marcas podem decorrer da tentativa de defesa da criança às agressões ou de quedas do menino decorrentes da ação violenta contra ele.

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"Aparentemente não há uma indicação clara de que tenha sido empregado algum objeto para isso [as lesões], o que leva a crer que tenha sido descartada a hipótese de queda, produzido por ação de alguém que usou as próprias mãos ou partes do próprio corpo, ou seja, socos e chutes [para agredir Henry", explicou Camargo.


O documento ainda resgatou imagens do elevador do condomínio do casal que registraram o momento em que Henry foi socorrido pela mãe e o padrasto. A análise do vídeo mostra que Henry, que estava no colo de Monique, se encontrava extremamente pálido, devido ao choque hipovolêmico -que é a grande perda de líquido e sangue-, e que o lábio estava cianótico, ou seja, de coloração azulada pela falta de oxigênio.

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A filmagem foi iniciada às 04h09 da manhã e os peritos concluíram que o óbito teria ocorrido há pouco tempo em razão das características físicas de Henry visualizadas nas imagens. Segundo o documento, todas as lesões foram produzidas mediante ação violenta e aconteceram entre 23h30min e 03h30min. O laudo aponta que o menino já estava sem vida antes mesmo de chegar ao hospital.


A análise da perícia corrobora com o depoimento da equipe médica que atendeu Henry no qual as três pediatras que prestaram atendimento ao menino disseram que ele já chegou sem vida no Hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, na madrugada do dia 8 de março. As profissionais da saúde também afirmaram que a criança chegou na unidade de saúde com lesões, assim como indicado no laudo da necropsia.

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"Pelo número de lesões, podemos dizer que houve uma ação contínua de pancadas. De certa forma, não estaria errado dizer que houve em certo espancamento. Pelos detalhes apresentados, fica evidente que é que não foi uma única ação [que provocou todas as lesões]. Foram várias [ações contra o Henry], as quais atingiram a parte abdominal, a cabeça e a lateral direita do menino, eventualmente um chute que fez com que ele caísse ou várias ações nessa região", diz Camargo.


As investigações ainda não terminaram, mas a Polícia Civil do RJ alega que os dois tentaram interferir nas investigações. Em depoimento dado na polícia, a babá Thayná Ferreira, 25, disse que nunca notou nada de anormal na rotina da família, o que vai de encontro a "prints" de mensagens do dia 12 de fevereiro encontradas no celular da mãe.

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Nelas, Thayná avisa que Jairinho se trancou no quarto com o menino, que depois lhe contou que o padrasto o pegou pelo braço, deu uma rasteira e o chutou. Ele também estava mancando e relatou dores na cabeça. A babá afirma que se encontrou com o advogado do casal dias antes do depoimento, a pedido da irmã de Jairinho.


Novas mensagens divulgadas nesta segunda pelo jornal O Globo também mostram que, dias depois desse episódio, Monique disse a uma prima pediatra que Henry chegava a vomitar e tremer quando via Jairinho. Procurada, a polícia ainda não confirmou o conteúdo.

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"Henry está com medo excessivo de tudo, tem um medo intenso de perder os avós, está tendo um sofrimento significativo e prejuízos importantes nas relações sociais, influenciando no rendimento escolar e na dinâmica familiar. Disse até que queria que eu fosse pro céu pra morar com meus pais, em Bangu", escreveu ela no dia 18 de fevereiro.


"Quando vê o Jairinho ele chega a vomitar e tremer. Diz que está com sono, que quer dormir e não olha para ele. Nunca dormiu sozinho, mas antes ficava no quarto esperando irmos ao banheiro ou levar um lanche, agora se recusa a ficar sozinho, não tem apetite, está sempre prostrado, olhando pra baixo, noites inquietas com muitos pesadelos e acordando o tempo inteiro. Chora o dia todo", continua.


Ela então afirma que "iniciou com a psicóloga" e pergunta se a prima acha necessário procurar "um neuro, um psiquiatra, fazer mais sessões por semana?". Diz que "tem sido muito sofrido para todos nós".


A mulher responde: "Acho que agora no início poderia ser 2 vezes na semana. Neuro e psiquiatra não". Depois, diz que "infelizmente isso é comum". Não fica claro se Monique relatou à prima a suposta agressão ou se se referiu, por exemplo, a problemas pela separação do pai de Henry.


Monique Medeiros e Jairinho foram presos temporariamente na última quinta-feira (8) e estão sendo investigados por homicídio duplamente qualificado com emprego de tortura e impossibilidade de defesa da criança.

A mãe de Henry foi encaminhada ao Instituto Penal Ismael Sirieiro, em Niterói, e o vereador Jairinho foi levado para o presídio Pedrolino Werling de Oliveira, no Complexo de Gericinó. Os dois se queixaram de dores nos últimos dias e Monique foi internada na madrugada desta segunda por suspeita de infecção urinária no Hospital Penitenciário Hamilton Agostinho de Castro, na zona oeste do Rio.


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