Um tiroteio entre agentes da Força Nacional de Segurança e indígenas da aldeia tupinambá foi registrado na madrugada desta quarta-feira (29) em Buerarema (BA), 450 quilômetros ao sul de Salvador, segundo a Polícia Federal. Não houve feridos no confronto e a situação foi controlada, de acordo com o órgão, ainda pela manhã.
De acordo com a PF, o ataque dos índios teria sido motivado por uma operação, realizada na tarde de terça-feira, 28, de reintegração de posse de duas fazendas da região, ocupadas desde meados do ano passado pelos indígenas. Para consolidar a retomada das propriedades, agentes da Força Nacional pernoitaram em uma das áreas e teriam sido atacados nesse período.
A PF afirma que os indígenas bloquearam as vias de terra de acesso às propriedades com troncos de árvores das próprias fazendas, para evitar a chegada de reforço policial às localidades, e passaram a atirar contra os integrantes da tropa, que revidaram. Por causa das barreiras, agentes da Polícia Federal só conseguiram chegar ao local na manhã de hoje. Cerca de 60 deles passaram o dia na região.
As lideranças indígenas, porém, negam ter atacado os agentes. Elas reclamam, por outro lado, da truculência policial nas operações de reintegração. De acordo com uma das lideranças, que pediu para não ser identificada, os índios não oferecem resistência quando precisam desocupar as áreas e, mesmo assim, não conseguem levar os pertences que ficam nas propriedades. "Não temos interesse em confronto", diz. "Fazemos as ocupações para chamar a atenção para nossa situação e cobrar providências."
Indígenas e produtores rurais, a maioria de pequeno porte, disputam uma área de 47,3 mil hectares entre os municípios de Ilhéus, Una e Buerarema, no sul da Bahia. São englobadas, nessa área, cerca de 700 propriedades rurais e moram na região cerca de 18 mil pessoas - 3 mil das quais indígenas. Os tupinambá pressionam para que a área seja demarcada como terra indígena.
Os conflitos se acentuaram no início da década, com a política de invasões a propriedades por parte dos índios, e ficaram mais intensos no ano passado, após a consultoria jurídica do Ministério da Justiça emitir parecer favorável ao pleito dos tupinambá. Os indígenas, então, intensificaram as invasões. Confrontos armados começaram a ser comuns na região. Agentes da Força Nacional estão desde agosto na área, tentando pacificar o conflito. Hoje, cerca de 60 propriedades estão ocupadas pelos índios.
Em outubro do ano passado, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o governador da Bahia, Jaques Wagner, receberam representantes de índios e produtores rurais da região em Salvador, na tentativa de intermediar uma solução para o conflito. Não houve acordo.