Os corpos encontrados na Terra Indígena Tenharim Marmelos, em Humaitá, sul do Amazonas, foram reconhecidos nesta terça-feira (4) como sendo dos três homens que desapareceram no dia 16 de dezembro na rodovia Transamazônica. De acordo com a Polícia Federal, eles foram rendidos e mortos com tiros na cabeça, provavelmente de espingarda. Em seguida, os corpos foram enterrados numa vala única coberta com palha para dificultar a localização das vítimas. Os corpos foram encontrados por mateiros do Exército com a ajuda de cães farejadores da Polícia Militar.
Cinco índios da etnia tenharim estão presos desde o dia 30, acusados do crime. Entre eles, dois filhos do cacique Ivan Tenharim, cuja morte em acidente de moto teria sido a motivação do ataque dos índios contra os brancos. De acordo com o delegado da PF em Porto Velho, Arcelino Damasceno, os suspeitos continuam negando o crime. "Ao contrário do que estão dizendo, não partiu deles nenhuma informação que ajudasse na localização dos corpos." O secretário de Segurança Pública de Rondonia, Marcelo Bessa, havia afirmado que os depoimentos dos índios presos teriam levado ao encontro dos cadáveres. Damasceno também negou rumores de que os corpos foram queimados ou decapitados. "Estavam inteiros, apenas com as marcas dos tiros."
Familiares dos três amigos - o professor Stef Pinheiro, o técnico Aldeney Salvador e o representante comercial Luciano Freire - se deslocaram até o Instituto Médico Legal (IML) de Porto Velho (RO) e fizeram o reconhecimento, que será confirmado por exames de DNA. As famílias querem a liberação dos corpos nesta quarta-feira, 05, para sepultamento, mas até a tarde desta terça os trabalhos dos peritos não tinham sido concluídos. Os laudos devem indicar a causa da morte, o tipo de arma ou munição empregado, a trajetória dos projéteis e as lesões. Para o delegado, a perícia é importante para fundamentar o inquérito, que tem prazo de trinta dias, mas pode ser prorrogado.
De acordo com o advogado das famílias, Carlos Terrinha, não está previsto velório conjunto. O corpo de Aldeney será sepultado em Manaus, o de Stef em Apuí e o de Luciano em Humaitá, cidades em que residiam até serem assassinados. Terrinha acredita que as investigações devem continuar para chegar a outros suspeitos. "Não foram só os cinco índios que estão presos (que mataram), há muitos outros, podem ser vinte ou mais. É preciso que se chegue a todos os culpados."
O delegado Damasceno informou que as provas apontam para a participação dos índios já presos. "Em princípio, no núcleo da ação estão os cinco (presos). Se conseguirmos comprovar a participação de outros, também serão presos." Os índios estão em cela separada de outros detentos, num presídio de segurança média, em Porto Velho. Eles são acusados de homicídio e ocultação de cadáver.
Revolta
O desaparecimento dos três homens e a demora na investigação geraram revolta na população dos municípios de Humaitá, Apuí e no distrito de Santo Antônio do Matupi, em Manicoré. No dia 25 de dezembro, a multidão incendiou carros, barcos e as sedes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Casa do Indígena em Humaitá. Durante os ataques, 145 índios se refugiaram no batalhão do Exército. No dia seguinte, moradores do Matupi invadiram a terra indígena e incendiaram postos de pedágio na rodovia Transamazônica. A Força Nacional de Segurança foi deslocada para a região para compor uma força-tarefa com o Exército, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e PMs locais. O clima continua tenso na região. "Para quem sai de Apuí, esta é a única rota, mas dá medo", disse o técnico agrícola Paulo Jean Araújo Silva.