Brasil

Crise hídrica leva entidade a ajudar municípios a montar planos de contingência

28 jan 2015 às 21:39

A crise hídrica vem mobilizando entidades que atuam no setor de saneamento básico, preocupadas com os reflexos da falta de água na vida da população e na economia. "É preciso se preparar para uma nova realidade, não dá mais para contar com o mesmo volume de água de anos atrás", alerta Silvio José Marques, presidente da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (Assemae), que reúne cerca de 2 mil associados, entre prefeituras e serviços autônomos de água e esgoto. A associação elegeu a crise hídrica o tema principal de sua 45ª assembleia anual, que será realizada na segunda quinzena de maio, em Poços de Caldas.

Além de discutir o tema, a associação está orientando Estados e municípios afetados pela falta de água, principalmente de São Paulo, a montar ou aprimorar planos de contingência para enfrentar a situação. Em entrevista ao Broadcast Político, serviço da Agência Estado de notícias em tempo real, Marques, que é sociólogo e especialista na área de saneamento e atua no Departamento de Águas e Esgotos (DAE) de Jundiaí, corrobora a preocupação manifestada hoje pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), de que a falta de água vai atingir diretamente mais de 60 mil indústrias instaladas no Estado, afetando empregos e o PIB. "Não é só a indústria que enfrentará problemas, outras áreas, como o comércio, principalmente bares e restaurantes, também serão afetados e as próprias empresas de saneamento terão sua saúde financeira afetada", afirma.


Críticas


Para Silvio Marques, a crise hídrica foi agravada pela falta de chuva. "A estiagem acentuada na região é um fato, mas não é só isso. Não se pode dizer que o problema é só a pontaria de São Pedro", diz. Segundo ele, há também problemas de gestão do governo de São Paulo e na Sabesp. Ele informa que em 2004 participou, como diretor comercial da Sanasa de Campinas, das reuniões em que o Sistema Cantareira foi outorgado à Sabesp. "Há dez anos, já se sabia que era preciso fazer investimentos e buscar outras alternativas para diminuir a dependência do Cantareira, pois ele chegaria ao seu limite de capacidade de abastecimento. E quase nada foi feito, ou seja, houve problema também de gestão."


Para o presidente da Assemae, a situação é realmente crítica, por isso, a entidade vem também buscando a interlocução com o governo federal, como o Ministério das Cidades e o BNDES, para a busca de alternativas de linhas de financiamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e investimentos emergenciais em obras que possam minimizar os efeitos dessa crise.


Na avaliação de Marques, planos de contingência e outras ações são importantes para que os municípios se preparem para a implantação de medidas como o estímulo à redução do consumo de água. Contudo, ele argumenta que outras medidas, como as obras projetadas para ampliar a oferta de água, podem demorar anos e dependem, muitas vezes, de projetos, financiamento, licenciamento ambiental, além da própria construção.

Ele destaca também que é preciso ampliar esforços para reduzir as perdas de água nas redes de distribuição do sistema, cuja média é de cerca de 35% no Estado. E informa que a Assemae está promovendo capacitações aos municípios visando à redução das perdas, em parceria com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Com a crise hídrica no centro da pauta da população e dos gestores públicos, Marques acredita que a 45ª assembleia anual da entidade, que ocorrerá de 24 a 29 de maio em Poços de Caldas, deverá reunir um grande número de autoridades e especialistas para discutir o assunto.


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