Brasil

Coletivos prometem manifestação em frente a central de contact center

30 abr 2021 às 19:37

Trabalhadores independentes ligados ao Comitê Unificado de Londrina prometem realizar na manhã deste sábado (1º) uma manifestação em frente à Vikstar, empresa de telemarketing com 1,2 mil funcionários sediada no município. O ato será realizado em alusão ao Dia do Trabalho e o local foi escolhido em razão do temor de muitos funcionários de que a companhia não honre com suas obrigações após ter tido o contrato com sua principal contratante, a Telefônica, encerrado, em março. No entanto, a manifestação não foi organizada por trabalhadores da Vikstar.


Após o anúncio, a Vivo, subsidiária da Telefônica, explicou à FOLHA que o contrato com a contact center possui aviso prévio de 90 dias, prazo que chegará ao fim em 18 de junho. É neste momento que funcionários acreditam que haverá uma demissão em massa.


Embora a companhia tenha realizado o pagamento dos salários referentes ao mês de março em duas vezes, entre os dias 13 e 14 de abril, ex-funcionários afirmam que a única maneira de obter as verbas rescisórias é através da Justiça. A reportagem ouviu relatos de trabalhadores que aguardam há mais de um ano o recebimento de verbas rescisórias, multas e direitos básicos, como a indenização de 40% sobre o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).


Por conta disso, parte dos trabalhadores decidiu ingressar com pedidos de rescisão indireta. Previsto no artigo 483 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), pedidos de rescisão indireta funcionam como uma inversão da demissão por justa causa e podem ser feitos por trabalhadores diante de alguma falta grave do contratante que inviabilize a manutenção empregatícia.


De acordo com uma ex-funcionária que pediu para não ser identificada, os "abusos” supostamente cometidos pela companhia costumam ter início logo na contratação. "Quando eles ofertavam a vaga no Sine, era para home office. Mas quando a pessoa entrava, eles falam que você iria trabalhar por um mês para aprender a usar o sistema e iria trabalhar em casa, o que nunca acontecia”, afirmou.


Ela também definiu o local de trabalho, onde acredita ter contraído a Covid-19, como "um barracão com 1200 pessoas sem circulação de ar”.


Mãe solteira aos 28 anos, a ex-funcionária disse que não teve o direito de deixar o local para realizar um teste RT-PCR quando sentiu os primeiros sintomas. "Me senti muito mal, fui ao ambulatório, me deram ibuprofeno e mandaram voltar a trabalhar. Chegou uma hora que não aguentei e fui direto para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Sabará e confirmou Covid-19 depois", lamentou.


A integrante do Levante Popular da Juventude, Talyta Ellen Teodoro, definiu o call center como a "escravidão moderna”, em que muitos trabalhadores adquirem doenças físicas e mentais "advindas da precariedade do espaço”, disse. O Levante Popular da Juventude é um dos quatro grupos que organizam a manifestação deste sábado.


A comparação foi compartilhada pela ex-funcionária, que afirmou já ter visto uma colega ser levada em uma cadeira de rodas em meio a uma crise de pânico. "Eu vi gente saindo de cadeira de rodas, passando mal, vomitando com crise de pânico enquanto estava atendendo. Depois de meia hora a pessoa voltava a trabalhar”, lamentou.


Com vencimento médio de R$ 1.048, a Vikstar também passou a parcelar os vales refeição e transporte. De acordo com a contact center, em razão de não ter recebido pagamentos da Telefônica.


A reportagem voltou a solicitar esclarecimentos à assessoria de imprensa da Vikstar na tarde desta sexta-feira. No entanto, a empresa preferiu não se manifestar. À época, a contact center disse que "continua a honrar as obrigações com seus colaboradores, conta com eles para a continuidade de suas operações”, afirmou. Além disso, que "vai continuar a buscar seu espaço no mercado brasileiro de serviços de contact center e de terceirização de processos de negócios”.


De acordo com o Comitê Unificado de Londrina, estarão presentes na manifestação deste sábado o SIT (Sindicato Independente de Trabalhadores) e o MTD (Movimento de Trabalhadores e Trabalhadores por Direitos). A organização também informou que vai assegurar que todas as medidas sanitárias de combate à transmissão da Covid-19 sejam adotadas.

A FOLHA também entrou em contato com o Sinttel (Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do Paraná). Porém, sem sucesso.


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