Em oposição ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, e ao governo, a Câmara aprovou nesta quarta-feira a criação de mais quatro tribunais regionais federais. Os novos tribunais ficarão em Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA) e Manaus (AM) e, de acordo com o texto aprovado, terão de ser instalados no prazo de seis meses, após a promulgação da emenda constitucional. A proposta já passou por todas as votações na Câmara e no Senado. A despesa criada com a aprovação do projeto é considerada pelo governo como "incalculável".
Os deputados aprovaram a emenda em segundo turno duas semanas depois do encontro entre Barbosa e os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no qual o presidente do Supremo se mostrou preocupado com o gigantismo e o crescimento desordenado da Justiça Federal. Há dois dias, Barbosa enviou uma carta a Henrique Alves, reafirmando a posição contrária à aprovação da proposta.
Nesta quarta-feira, em ofícios encaminhados aos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Alves, Barbosa externou sua "grave preocupação com a perspectiva de aprovação da proposta". O presidente do STF alertou, antes da votação, que a criação dos tribunais terá um impacto orçamentário que não pode ser desprezado. "Sem dúvida essa ampliação gigantesca da estrutura pública implicará enormes custos permanentes e sempre crescentes ao erário. Serão necessários dispêndios, por exemplo, com ativos permanentes de expressiva monta, sua manutenção, materiais de uso e de consumo, bem como com a folha de pagamentos dos respectivos membros e servidores", observou.
Joaquim Barbosa também disse que o volume crescente de processos judiciais e a necessidade de decidi-los rapidamente não são premissas que levam à conclusão de que a criação dos quatro tribunais resolverá os problemas.
O presidente do STF defendeu uma aplicação mais racional e eficiente dos recursos já existentes e a reorganização dos atuais tribunais. "São opções viáveis de menos custo capazes de assegurar ao cidadão o direito à solução de seu litígio em prazo razoável e com a segurança necessária", afirmou.
Casuísmo
"Não vai ser o Supremo que vai dizer o que a gente vai votar aqui ou não", disse o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), defensor da proposta e de Estado beneficiado com a emenda. Vargas conduziu a votação no plenário, na ausência de Henrique Alves, em licença médica. "Identifico sérios riscos à higidez da Justiça Federal", afirmou o ministro Joaquim Barbosa na carta.
O PT liberou o voto dos deputados. Apenas o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e o PSOL orientaram o voto contra a proposta. "É o casuísmo perdulário", resumiu o deputado Chico Alencar (Psol-RJ). Os deputados de Estados que serão contemplados com um novo tribunal ficaram a favor do projeto. O placar registrou 371 votos a favor, 54 votos contrários e 6 abstenções.