A família do motorista Alessandro Miguel Molter Correa da Silva cogita voltar de Petrópolis a Londrina após sentir na pele a tempestade que destruiu parcialmente a cidade e já deixou 130 mortos e 218 desaparecidos até a tarde desta sexta-feira (18).
Nascido em Petrópolis, Alessandro foi para Londrina aos 6 anos de idade, onde permaneceu por 26 anos até um ano e meio atrás, quando retornou com a mulher e as duas filhas, hoje com 2 e 8 anos, para a cidade fluminense.
“Sempre gostei de Petrópolis, toda a família por parte de pai e da mãe são daqui, é perto da praia, então decidimos voltar. Mas depois do que aconteceu, já estamos quase decididos a voltar a Londrina”, destacou.
Sem abastecimento de água da rua em casa há três dias, a família de Alessandro está conseguindo ainda se virar porque tem três caixas d’água, mas entrou no racionamento pesado.
Com relação à alimentação, horas antes da tempestade, Alessandro foi ao supermercado. Hoje, poucos mercados estão abertos e a recomendação é que as pessoas que estão em local seguro permaneçam em casa. “O risco de ir ao mercado ainda é muito grande. A Defesa Civil pediu para sair só em extrema necessidade.”
Alessandro relembra que na terça-feira (15) à tarde, início da tempestade, já não conseguiu buscar mais as filhas na escola de carro com a esposa, tiveram que retornar. As aulas foram suspensas desde então.
“Era transformador estourando, muro caído, asfalto saindo da rua, praça com 2 metros de altura de barro, carros amontoados, cheiro de gasolina para todo lado, muita gente com pedaço de pau e com pedra na mão para se defender de assaltos”, relembra.
Sem opção, ele e a mulher deixaram o carro num posto de gasolina a cerca de 400 metros da sua casa. A mulher ficou no posto com o veículo e Alessandro seguiu a pé para casa, onde pegou a moto e junto com o primo foi tentar buscar as filhas.
“O trecho que demorava 10 minutos para chegar à escola acabamos levando uma hora e meia de moto. Teve pontos que a água estava na cintura, mas conseguimos passar”, relembra.
Ao chegar à escola, um grupo de 12 pessoas, incluindo Alessandro e o primo, voltou a pé com algumas crianças. O trecho da escola até a casa de Alessandro tem 4 quilômetros. Ao todo, foram quase duas horas de trajeto a pé.
“Estávamos em bando para evitar assaltos, teve arrastão e uma moça que saiu do colégio com 6 crianças teve o carro roubado, quebraram o vidro e mandaram todos descer”, conta.
Ao tentar ligar para a esposa para contar que havia conseguido chegar à escola, Alessandro não conseguia contato.
“Bateu o desespero. Minha mãe também ligou para ela e não conseguia falar”, relembra. Alessandro e as filhas conseguiram voltar ao posto e subiram para casa, aonde chegaram por volta da 1h da madrugada de quarta-feira (16). “Praticamente não dormi, era sirene para todo lado”, relembra.
Passados quase 3 dias do início da tragédia, Alessandro diz que a sensação principal hoje é de alívio. “Foi desesperador, mas a sensação por todos nós estarmos bem é muito boa. Um misto de alívio por nós, mas muita tristeza pelos outros”, conclui.