Com a forte chuva desta quinta-feira (23) em Porto Alegre, os alagamentos já duram 22 dias e se expandem para bairros que até então não haviam sido tão impactados na zona sul da cidade. A cheia de um arroio inundou ruas na capital, obrigando voluntários a agirem novamente com o auxílio de barcos e botes infláveis. O mês de maio de 2024 é o mais chuvoso da capital gaúcha desde o início das medições, em 1910.
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Cerca de 50 pessoas foram resgatadas de um pequeno beco tomado pela água até o começo da noite de ontem no bairro Cavalhada. Alguns deles ficaram em uma tenda improvisada em frente a um condomínio, onde contavam com a solidariedade dos próprios moradores.
O técnico em meio ambiente Emerson Prates, 51, que participa dos resgates com barcos desde quando começaram a ocorrer os primeiros alagamentos, não escondia o esgotamento físico e mental.
Membro de um grupo de ativismo ambiental. ele se reuniu com outras pessoas conhecidas para auxiliar as vítimas das chuvas e fez críticas às autoridades. O prefeito Sebastião Melo (MDB) negou ontem ter sido pego de surpresa pela chuva e relacionou as novas inundações à chuva intensa concentrada nas mesmas regiões.
"Quem tem algum tipo de habilidade, tem que ajudar. Estou tentando fazer isso desde o começo. Quando achei que poderia descansar, vi que tinha gente precisando de resgate e resolvi sair novamente. Era para o poder público já estar preparado para assumir esse papel, mas estão tão perdidos quanto a gente. É frustrante", disse Emerson Prates.
Só após a passagem deles por ali, foi possível observar a chegada de funcionários da prefeitura, membros da Defesa Civil e militares do Exército.
Segundo os voluntários, os resgates ali foram delicados por causa da forte correnteza após a alta do arroio. "Tinha muita criança, muito idoso e muitos cães nas áreas com alagamento", disse o voluntário Rafael Bittencourt, 43.
Uma das pessoas resgatadas em meio à inundação por ali foi a aposentada Guiomar Meirelles Toledo, 70, que viu a água subir até a altura do seu peito quando estava em casa. Ela e os seus sete cães foram resgatados.
"Fiz contenção no meu portão, mas não adiantou. Pensei primeiro em salvar os animais e cheguei a cair. Nunca precisei sair de casa. Mas aconteceu e tive que sair. Só estou com a roupa do corpo. Estou muito abalada, está tudo embaixo d'água", disse Guiomar Meirelles Toledo.
Após o resgate, havia outra preocupação. Como não poderia ficar com parentes no bairro Restinga, também alagado, Guiomar disse que só iria para um abrigo caso pudesse levar os cachorros.
'PESADELO SEM FIM'
A reportagem do UOL acompanhou o momento em que começou o alagamento no Menino Deus, no fim da tarde de ontem. Atingido pelas inundações no começo do mês, os moradores do bairro tentavam retomar a normalidade quando foram atingidos por mais uma enchente.
Com uma mochila nas costas, a enfermeira Bruna Cristina Dias, 23, saiu do prédio onde mora na avenida Praia de Belas com a água já pela cintura.
Resgatada em um barco enquanto a água subia há pouco mais de duas semanas, ela ficou na casa de parentes e retornou na quarta-feira (22) para o apartamento. Mas a tentativa de retomada da normalidade só durou algumas horas. "Só tive tempo de pegar as minhas coisas e sair. Estou vivendo um pesadelo que não acaba nunca".
Em seguida, a empresária Vitória Luz da Silva, 23, saiu do mesmo prédio visivelmente abalada.
"Eu voltei ontem, comecei a organizar as minhas coisas e tive que sair de novo. É traumático e assustador. É um pesadelo ter que reviver isso", disse Vitória Luz da Silva.
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