Após meses de seca, boa parte do Brasil entrou em chamas em agosto, dobrando a área atingida desde o início do ano. Segundo dados do Monitor do Fogo da plataforma MapBiomas, divulgados nesta quinta-feira (12), no último mês a área queimada no país foi de 56.516 km².
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A área é maior do que a de cinco estados brasileiros (Sergipe, Alagoas, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Norte) e equivale à da Paraíba (56.467 km²). Foi o pior agosto da série histórica da plataforma, iniciada em 2019.
Com esse resultado, o total atingido pelo fogo no Brasil em 2024 chega a 113.960 km² -mais do que o dobro do registrado nos primeiros oito meses de 2023 (52.519 km²).
"É importante entendermos o que está queimando", diz Ane Alencar, coordenadora do Mapbiomas Fogo e pesquisadora do Ipam (Instituto de Pesquisa da Amazônia).
"O que queima no Brasil são áreas de vegetação nativa, principalmente aquele tipo de vegetação mais savânica, como do cerrado e de formações campestres com algumas árvores. Em seguida vêm as áreas de campo e de floresta. Juntando tudo isso dá 65% da área queimada no Brasil em agosto."
A área de agropecuária atingida foi de cerca de 34% do total, sendo que a maior parte se deu em pastagens (24.045 km²). A especialista ressalta que, na amazônia, esse índice aumenta.
"Cerca de 55% do que queimou na amazônia em agosto foi em áreas de pastagem. E essa área normalmente é maior, em torno de 70% a 75%, o que comprova o uso do fogo para a renovação do pasto [como uma fonte de focos]", explica Alencar. "Isso é muito relevante. As pastagens são o principal uso da terra e ocupam grande parte da área desmatada na região".
No país todo, áreas de pastagem respondem por um quarto (25%) do que foi queimado em agosto.
Os estados mais atingidos foram Mato Grosso (17.169 km²), Pará (9.194 km²) e Mato Grosso do Sul (6.282 km²).
Outro destaque foi São Paulo. No total, foram 3.704 km² queimados no estado no último mês, o que representa 86% do total para 2024. O fogo atingiu principalmente áreas agropecuárias (89%), especialmente de cultivo de cana-de-açúcar, com cerca de 2.360 km² queimados. Os municípios mais afetados foram Ribeirão Preto, Sertãozinho e Pitangueiras.
Entre os biomas, o cerrado (43%) foi o que mais queimou em agosto, seguido da amazônia (35%) e do pantanal (11%).
Mesmo diante dos altíssimos índices registrados em agosto, Alencar avalia que a situação deve ser ainda pior neste mês.
"Acho que em setembro nós vamos bater o recorde de agosto. Os números de focos de calor dão o indicativo de que vamos ter um setembro bem difícil", afirma.
Em agosto, foram registrados mais de 68 mil focos no país, enquanto de 1º a 11 de setembro o número chega a quase 46 mil focos, segundo dados do Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais).
"O grande ponto é saber se a chuva vai começar a chegar em outubro ou não. Quanto mais estender essa época seca, mais vamos continuar nessa situação", explica a pesquisadora. Ela acrescenta que o estabelecimento do La Niña pode trazer chuvas que aliviem a seca e amenizem a situação, mas o início do fenômeno climático está demorando mais do que o previsto inicialmente.
"As condições climáticas são um fator muito preponderante para que as queimadas extrapolem e virem grandes incêndios", diz.
Alencar ressalta, ainda, que a situação é particularmente assustadora porque, mesmo com a gravidade da situação, as pessoas seguem usando o fogo na agropecuária e, em menor grau, para outros fins, como para queima de lixo.
"A crise requer que as pessoas parem de usar o fogo nesse momento e os criminosos comecem a ir para a cadeia. O governo está usando todos os seus esforços para combater o fogo e, mesmo que queira combater todos os incêndios, não vai dar conta. É preciso cortar o mal pela raiz, que é o uso do fogo."