Para você que gosta de vinhos chilenos, é impossível contar aqui tudo sobre aquele belo país. Por isso, faço uma breve referência. Aqueles tintos não estão entre os meus favoritos, mas e daí? O país construiu sua reputação como produtor sério de Cabernets e Merlots frutados de baixo custo e alta qualidade. Sua condição única possibilitou se tornar um dos grandes produtores no mundo.
Na verdade há excelentes vinhos por lá, alguns comparáveis aos grandes franceses. Menciono o belíssimo trabalho e consistência na exploração de "terroirs" inacreditáveis, tanto ao norte (acima do deserto de Atacama, e divisa com a Bolívia), quanto ao sul (regiões geladas ainda mais ao sul do vale de Malleco, na região de Chillán)

, mais ainda; alguns vinhedos constituídos na impressionante altitude de 3.500 metros (maior altitude que os vinhedos de Salta, Argentina, tidos como os mais elevados). A dinâmica empresarial e riqueza natural possibilitam a descoberta de diferentes regiões ainda hoje.

A cultura da vinha se difundiu no país no século XVI, com a chegada dos espanhóis, mas só se popularizaram no século XIX, com a invasão da cultura francesa, possibilitando o início da indústria de vinhos de qualidade.

Vieram os vinicultores e cepas europeias antes do ataque da filoxera (praga que dizimou a vitivinicultura europeia em 1860). O Chile raramente sofreu ataques de pragas, pois tem uma enorme vantagem comparativa quando se fala em vinhos. Há muitos benefícios pela geografia do país: ao norte, o deserto de Atacama; ao leste, a Cordilheira dos Andes, ao oeste, o Oceano Pacífico, e ao sul, a Antártida, o continente gelado, formando uma verdadeira barreira sanitária natural.

Seu patrimônio de vinhas europeias ainda é a espinha dorsal da indústria vinícola. Como se não bastasse, o clima é muito propício ao cultivo de vinhas de altíssimo padrão, tanto que em 2007, alguns pesquisadores da Universidade da Califórnia designaram o Vale do Colchagua, como um dos mais interessantes locais para a produção de vinhos finos.

Em 1989, houveram mudanças políticas e econômicas no país e o mercado para exportação do vinho chileno cresceu exponencialmente. Hoje é o 6° produtor (aprox.13 milhões de hectolitros) e 4°exportador mundial. É também o principal fornecedor do mercado brasileiro. Os investimentos empresariais são a base deste desenvolvimento, contando com grandes grupos (Concha y Toro, Santa Helena, San Pedro); empresas médias, familiares (Errazuris), e as chamadas de vinícolas "boutique", que tem como foco o perfil premium (Viña Aquitania, Casas del Bosque, Lapostole, Montes, são alguns exemplos).
Estas empresas buscam as melhores condições e terrenos para cada cepa. Há pesquisas permanentes e cultivos de áreas recentes (como o Vale de Casablanca e Leyda no Vale de San Antonio que produzem excelentes vinhos brancos, com uma das melhores relações custo x benefício do mercado). Por revelar grande amplitude térmica, boa logística e melhores condições que outras regiões, há probabilidade do Vale do Limarí se tornar a estrela do futuro. Um dos passos importantes da vitivinicultura chilena (anos 90) foi a identificação da cepa Carmenére, antes confundida com a Merlot. Esta antiga variedade de Bordeaux, cheia de sabor, suave, com toques de ameixa, conquistou boa posição entre os vinhos chilenos. Alguns produtores buscam alternativas, redescobrindo materiais genéticos,e recentemente, utilizando estilo mais europeu nas técnicas produtivas, resultando numa interessante inovação.

Outra interessante escolha foi a Sauvignon Blanc em detrimento de Sauvignonasse (baixa qualidade), pois esta cepa de origem francesa expressa-se elegantemente, com altíssima qualidade, buscando o padrão atingido na Nova Zelândia. A cepa mais cultivada no Chile ainda é a Cabernet Sauvignon, que dobrou sua área nos últimos anos, seguidas pela Merlot e Chardonnay.

O amadurecimento das uvas nunca foi problema no país, as tintas exibem generoso sabor de fruta madura. A confiança da indústria é crescente, principalmente nas áreas de clima frio(Vale de Casablanca, Leyda e Malleco), possibilitando sensível aumento de qualidade dos vinhos brancos, colocando o Chile como referência. Até mesmo a Pinot Noir (casta de difícil manejo), se mostra muito promissora nestas terras frias.

Não perca o próximo post, vou citar alguns vinhos chilenos, com boa relação custo x benefício.