Londrina é surpreendente: parece mesmo que aqui só existem 30 pessoas e que em todo lugar que a gente vai a gente encontra uma delas. Mundinho bem pequeno...mas, de verdade, a vida no interior tem vantagens que a metrópole só consegue sonhar em oferecer. Criada dentro de um apartamento na periferia de São Paulo, numa rua que dá acesso à Marginal Tietê e que inundava toda vez que chovia - carregando sofás para uma viagem sem volta - eu descobri, depois de "grande", que tudo o que eu mais queria era mesmo morar no interior. Tudo o que queria e precisava, já que São Paulo pode ser bem opressiva quando o cidadão não tem tanta força de vontade assim. O que quero dizer é que nunca subi em árvore, nunca nadei em rio, nunca vi cachoeira, nunca comi fruta do pé e tenho pavor de cachorro. Só agora, morando na pequena Londres, é que percebi o quanto a natureza e o contato com as coisas simples da vida me fizeram falta e, pior, determinaram quem sou hoje. Tenho dificuldade em reconhecer aromas, bichos, flores. Tenho dificuldade em andar com o vidro do carro aberto ou passear na rua numa noite quente de verão. Mas ainda bem que acordei do sono profundo da metrópole, o pesadelo recorrente que finalmente me despertou do medo. Ainda bem que fiz o caminho inverso e descobri como viver é divertido. Não é preciso dinheiro, dezenas de shoppings, bares, restaurantes, cinemas. De nada vale tantas opções se não há amigos para dividir o momento. E é isso que mais me orgulha em ter decidido tocar a vida no interior: as opções podem ser poucas, mas são infinitamente mais divertidas porque os amigos estão sempre juntos, a menos de cinco minutinhos de distância. Todo mundo sempre pronto para passar a tarde no pesque-pague, tomar café na padoca, fazer picnic no parque ou simplesmente caminhar admirando o reflexo do sol nas águas do lago. Apimentar o dia com aquele pouquinho de natureza que é fundamental para recarregar as energias e garantir o sorriso no rosto.