Oficina Londrina

Dia primeiro de maio de 1994

01 mai 2018 às 10:45

O dia 1° de maio é lembrado mundialmente pela luta dos trabalhadores em busca dos seus direitos. Para mim, nunca foi assim.

Há 24 anos, eu era apenas um garoto que adorava carros, como muitos outros. Colecionava carrinhos, jogava Super Trunfo, comprava e trocava figurinhas, no meu caso, de álbuns de Fórmula 1. Não tinha maturidade suficiente para entender a importância deste dia.


Era um domingo, só mais um, e eu, apaixonado por automobilismo, acordava pouco antes das 9 da manhã, pedia pra minha mãe fazer meu café e ia para o quarto dos meus pais, pois lá a TV funcionava melhor. Ligava na Globo e esperava a corrida começar.


"Bem amigos da Rede Globo" dizia Galvão Bueno, dono da voz que ecoa em nossa lembrança quando se fala em Fórmula 1. A adrenalina começava ali. Nesta época, a TV mostrava mais do que hoje. Mostrava a saída dos boxes, a volta de apresentação, os carros se alinhando no grid. Era lindo... Eu amava ouvir o ronco daqueles motores, que mais parecia um zunido. Eram motores V10 aspirados, que tinham mais de 700 CV de potência. O barulho de perto deveria ser ensurdecedor, mas pela TV, era prazeroso ouvir. Ao menos para mim!


Eu estava ali, sentado no chão, na frente da TV, querendo ver finalmente uma vitória do Ayrton Senna com a poderosa Williams FW16. Aquela, azul e branca, com o patrocínio da Rothmans.


Ele ainda não havia vencido naquele ano. Sua última vitória tinha sido em Novembro de 93, de McLaren. As duas primeiras provas foram vencidas pelo alemão Michael Schumacher, com a sua Benetton. Apesar disso, Senna era o pole position e favorito para a prova.


Mas, isso não o animava Senna. Ele não queria correr. Não era premonição, não! Era desânimo mesmo. No dia 29 de abril de 1994, um grave acidente chocou os bastidores da Fórmula 1. Rubens Barrichello levantou voo por sobre os pneus num acidente impressionante. Depois, no dia 30, Roland Ratzenberger, da Simtek, bateu forte contra um muro de concreto na curva Villeneuve. A morte do austríaco fora anunciada 8 minutos depois.


A atmosfera era pesada, não havia clima. A tristeza tomava conta do paddock mas a FIA decidiu que haveria corrida mesmo assim. Eu também era imaturo para entender isso.


Era a sétima volta, eu estava otimista pois Senna estava na frente, abrindo distância de Schumacher. Na Tamburello, Senna passou reto e bateu forte contra um muro de concreto. Custo a acreditar até hoje que deixavam enormes muros de concreto sem proteção alguma.


Galvão Bueno narrava: "Senna bateu forte... Ali na Tamburello, a batida muito forte". Bandeira amarela e as equipes de socorro correram para o local. Posteriormente, bandeira vermelha e helicóptero na pista.



Ninguém sabia o que havia acontecido, ninguém queria acreditar naquilo. Apesar de, no fundo, sentir que o grande herói da minha infância nos deixava, eu queria guardar a esperança.


Eu nem assisti o restante da corrida. Lembro de ter ido na praça em frente de casa avisar meu pai sobre o acidente, ainda acreditando num milagre. Depois da confirmação, eu chorava – e ainda choro de lembrar.


Minha mãe tentava me consolar, mas não dava, eu estava em prantos. Tive poucos dias tão tristes em minha vida como foi aquele dia 1° de maio de 1994.

O Dia do Trabalhador, para mim, será sempre da triste lembrança do adeus de Ayrton Senna da Silva.


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