Foram as mais amargas das horas, o que se sucedeu após a lépida saída de Marcelo daquele noivado cristão. César sentia o calor do sangue escorrendo têmpora abaixo, chorava compulsivamente sem conseguir encarar os familiares de frente.
Um dos futuros padrinhos de casamento estendeu-lhe a mão para que ele se levantasse. Outra alma boa trouxe um pano velho para estancar aquele vermelho viscoso, que já ensopara o terno novinho e destruíra a camisa branca.
– Vocês me perdoem, balbuciou César com o rosto entre as mãos, olhando para baixo.
- Desde quando isso vem ocorrendo, perguntou o pai dele, sem nenhuma afetividade.
César disse que desde que conheceu Deus como o legítimo e único Salvador da existência humana, colocara um ponto final naquela história. E que desde que lhe fora apresentado o amor de Dalva, tudo fazia parte do passado. Ainda refez o pedido de perdão, numa tentativa deprimente de considerar a história passada um erro, de que aquilo era uma mácula, mas que no fundo, ele era uma boa pessoa, de bom caráter, cumpridor dos deveres e compromissos. Negou-se a si mesmo para justificar o romance de oito anos vividos ao lado de Marcelo, com quem, inclusive, construíra um patrimônio com um apartamento e dois automóveis.
A mãe dele foi a primeira a dizer que o perdoava, no que foi seguida pela futura sogra.
– O passado não importa. O que vale é o que você será daqui pra frente. A Dalva é minha única filha, querida, e eu te recebo também como um filho.
O pai e o futuro sogro mantiveram um silêncio sepulcral, apenas deram um abraço distante.
Dalva, visivelmente consternada, segurou-lhe as mãos e levantou-lhe o rosto para que ficassem olho no olho. Disse-lhe, de maneira clara e indubitável: o passado está morto. Eu preciso saber se a partir de agora, sou eu a sua escolha.
Com a voz embargada, César respondeu que sim. Dalva segurou o rosto dele com as duas mãos, beijou-o ternamente e afirmou diante de toda a família: Eis aqui o futuro pai dos meus filhos.
...continua...