Já é noite quando César, um bancário de 35 anos, ligeiramente acima do peso, entra no apartamento de classe média na região central de Londrina. Cansado, mal cumprimenta Marcelo, 38 anos, gordo que faz musculação, esparramado no sofá vendo televisão, um daqueles programas de auditório baixo nível.
Marcelo pergunta por onde César andava e descobre que o namorado passara por uma igreja evangélica. Tensão no ar. César diz que os dois precisam ter uma conversa definitiva e senta-se à mesa, fazendo sinal para que o outro o acompanhe. Depois de pensar por alguns dias, Marcelo decide romper a relação que os dois mantinham havia mais de oito anos. E a razão parecia bem simples de entender: ele convertera-se e desde então era um "servo" de Deus, em quem não cabia esses pecados da carne.
Antes mesmo de encerrar a frase, Marcelo acerta um decisivo murro no olho de César, que cai da cadeira. Ato contínuo, os dois estão atracados no chão, com muitos e muitos socos sendo desferidos, até que César consegue derrubar o outro ao lado, afirma que a situação passara dos limites e que ele iria embora.
Com a honra e o rosto literalmente feridos, escorrendo sangue da têmpora, César entendeu que era a hora de dar o golpe fatal. Segura o rosto de Marcelo, olha bem dentro dos olhos dele e afirma pausadamente: agora eu sou um filho de Deus. E um filho de Deus não tem esse tipo de desvio. A partir de hoje você não faz parte da minha vida. Eu nunca mais quero ver você. E por último, e não menos importante, eu estou apaixonado por outra pessoa.
Baqueado, Marcelo demonstra não entender exatamente o teor daquelas palavras, parece atordoado, mas com forças suficientes para gritar um sonoro filho de uma grande puta e desferir o último e certeiro soco no rosto de César.