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Seus posts são muito generosos, já te disse isso. Raramente um psicanalista se dispõe a fazer comentários como numa clínica aberta com o intuito de ajudar as pessoas (e ajuda muito). Há situações em que até dentro do consultório me vi como ainda me vejo, sujeita a arranjar recursos para suportar a dor como se não pudesse nunca superá-la... A medicação ser ajustada parece a única atitude a tomar, no mais "não liga, não", "fale nada", "não confronte" e eu vou me entristecendo sem coragem para fazer um café, carregando a vida como um fardo mesmo. Ora, para que psicanalista? Eu me pergunto. Ter essa escuta semanal, ok, ajuda, mas estou adoecendo psicossomaticamente, se existir esta expressão. Desculpe o desabafo, mas não resisti. Um abraço.
Viver sem coragem para fazer um café não é viver, mas apenas subsistir. Você equivale a sua vida a uma mera subsistência e assim vai levando. Porém, dentro de você há um grito contido, inibido e a ser dado. Foi este grito que te fez me escrever. Na verdade, você não está me escrevendo, mas está me gritando por ajuda. Você pede que alguém te escute de verdade.
O seu psicanalista, pelo o que você fala, não tem esta capacidade. Ele parece não te escutar. Ficou como uma relação burocrática, vocês cumprem os papeis, mas não é um encontro promotor de vida. Não há confrontos nem falas mais espontâneas. Parece que há um acordo não verbal entre vocês dois. Um acordo de ninguém trazer trabalho a ninguém. Você não fala sobre a angústia que sente, ele não se depara com isso, não se incomoda e nem te devolve esse incômodo com outro significado. No máximo, ajustam a medicação.
Não é à toa que gosta dos meus textos e posts, pois vê que me incomodo e não procuro caminho fácil. Tenho, também, sérias dúvidas sobre o mesmo psicanalista que atende em análise, medicar. Não acredito nisto. Um analista deve estar com seu analisando em outros termos e não deve usar a medicação. Isso pode prejudicar a relação analítica, já que facilmente se encontra na química saídas rápidas e falsas ao invés de se viver as angústias que precisam de palavras. Você deve ter um analista e também um médico que acompanhe sua evolução nos medicamentos.
O grito você já deu, o desabafo já foi feito. Contudo, só desabafar não será proveitoso, pois é preciso também que mude, se transforme. Se o café, no momento, não dá para fazer, será que não dá para encontrar um psicanalista que te escute e que, te escutando, te ajude a escutar e a entender o grito que te sufoca? Se está incomodada só resta mesmo sair dessa posição e procurar outra. Nunca tenha medo do incômodo, mas tenha medo de se acomodar no incômodo.