Pergunta de Leitor – Sem bola de Cristal
Desde que começou essa loucura do Coronavírus estou com a sensação de que iremos todos morrer. Sou jovem, tenho bronquite e estou afastado do trabalho. Tenho uma filha, pais idosos, e medo de perder as pessoas que amo. O que faço com essa sensação?
Você diz que tem a "sensação de que todos iremos morrer". Bom, a sua sensação está certa. Todos iremos morrer, mas calma, porque não sabemos quando isso se dará e nem sabemos se será por causa do coronavírus. Você não tem bola de cristal, por isso mesmo não sabe o que o futuro aguarda. Imaginar o pior é o mesmo que alucinar, já que até agora você está bem, seus pais devem estar bem assim como está bem a sua filha.
Obviamente estamos todos vulneráveis frente a esse vírus que pouco sabemos e que vem causando tanto tumulto. Estar afastado do seu trabalho, da sua rotina, faz com que fique se sentindo desamparado. Afinal, uma quebra ocorreu e quando algo se rompe, quando algo conhecido se quebra o sentimento é mesmo de desamparo porque implica em aprender com o novo e desconhecido. Estamos todos, você, eu e todos nós nesse planeta inteiro, frente a essa situação onde não há referências. Temos que aprender a lidar com o novo, quer gostemos ou não.
Agora, essa angústia que você sente não é só devido a situação presente que vivenciamos, ela já é coisa antiga. Apenas que por agora essa angústia está mais intensificada. Porém, provavelmente você sente essa angústia já há muito tempo. Ouso levantar a hipótese de que o que te angustia é lidar com as coisas que você não tem controle. Acredito que antes mesmo de existir essa ameaça atual do vírus você já ficava preocupado consigo, com sua filha e seus pais. Será que não era assim? Essa ansiedade está apenas mais nítida agora.
O que está acontecendo é que devido a todo esse rebuliço causado pelo Covid-19 angústias que já carregávamos ao longo da vida ficaram mais ressaltadas. Você irá precisar não só tomar os cuidados necessários para se proteger do vírus, mas também para se proteger de suas ansiedades. Aceitar que na vida pouco ou quase nada controlamos de fato. E de que a morte é nosso destino final. No entanto, não é a morte que importa, mas como você vai viver até lá. Que qualidade de vida alguém se dará para enfrentar tudo o que a vida traz é a coisa mais vital para se pensar.