Após sete anos de pesquisa para sua tese de doutorado, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o biólogo Carlos de Araújo chegou a conclusão de que a poluição sonora pode prejudicar os diálogos entre as aves do Cerrado brasileiro. Espécies de papagaios, periquitos e araras, que conseguem dialogar em distâncias de até 1,5km, têm o alcance da comunicação reduzido para 0,5km, por conta da interferência humana.
A longa distância dos sons emitidos faz parte da dinâmica das aves, que se separam em bandos pequenos durante o dia para se alimentar e avisam uns aos outros onde achar comida. "O que você vê em campo são esses pequenos bandos se juntando e se separando constantemente".
Além disso, as sinalizações servem como proteção dos grupos contra os inimigos. Segundo o biólogo, as notas emitidas pelas aves em contextos específicos já foram identificadas. "Um indivíduo fica na copa da árvore observando a presença de predadores e emitindo um som de intensidade baixa.
Quando um deles se aproxima, o sentinela emite uma nota de alarme para avisar aos demais", explicou. A pesquisa também aponta que, a depender da interferência sonora, a ave pode mudar seu canto, com frequências mais agudas ou mais intensas a depender dos ruídos. As medições realizadas por Araújo foram executadas em fazendas e na Universidade de Brasília (UnB).
A próxima etapa do trabalho, que centrou esforços no estudo do periquito-rei, do maracanã-nobre e da arara-de-barriga-amarela, será descobrir o impacto da poluição sonora na sobrevivência das espécies.
(Fonte: TN/EcoDesenvolvimento)