O mundo pode ter 849 milhões de hectares (uma área equivalente ao território do Brasil) degradados até 2050 caso os padrões insustentáveis de uso da terra sejam mantidos. A conclusão consta no relatório Assessing Global Land Use: Balancing Consumption with Sustainable Supply, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), lançado na sexta-feira, 24 de janeiro, durante o Fórum de Davos, na Suíça.
A necessidade de produzir alimentos para uma população global em crescimento levou a agricultura a ocupar 30% das terras do mundo, resultando em uma degradação e perda de biodiversidade em 23% dos solos globais. Entre 1961 e 2007, as terras cultiváveis foram expandidas em 11%, índice que continua a crescer.
O relatório foi produzido pelo International Resource Panel (IRP), com a participação de 27 cientistas, 33 representantes de governos e outros grupos. "As conclusões do IRP mostram um declínio acentuado nos ecossistemas terrestres nas últimas décadas. Florestas e outros biomas foram convertidos em terras para cultivo a um custo que não é sustentável. Como a terra é um recurso limitado, precisamos nos tornar mais eficientes na forma de produzir e consumir", observou o diretor executivo do Pnuma, Achim Steiner.
"As recomendações do relatório devem alertar líderes e contribuir para as discussões sobre o uso sustentável de recursos, incluindo novas metas para o desenvolvimento sustentável pós-2015", defendeu Steiner.
Consumo e sustentabilidade
O estudo reforça a necessidade de equilibrar o consumo com a produção sustentável. O crescimento da renda e da urbanização está alterando a maneira das pessoas consumirem alimentos, e há poucas políticas públicas voltadas para hábitos responsáveis de consumo.
Ao mesmo tempo, a população em expansão e em migração para cidades leva a uma projeção de que, em 2050, 5% das terras do mundo – cerca de 15 bilhões de hectares – serão ocupados por cidades. No atual ritmo, as terras cultiváveis deverão ocupar de 120 a 500 milhões de hectares na mesma projeção.
Recomendações
O Pnuma afirma que até 319 milhões de hectares podem ser preservados até 2050, se algumas medidas foram seguidas. Elas incluem:
- Investimento na recuperação de solos degradados;
- Melhoria nas técnicas de manejo e planejamento do uso da terra para minimizar a expansão;
- Intensificar as práticas de proteção ambiental na agricultura, de uma maneira ecológica e socialmente aceitável;
- Monitorar o uso global da terra e o consumo de produtos da agricultura para permitir comparações e gerar subsídios para políticas setoriais;
- Reduzir a perda e o desperdício de alimentos;
- Reduzir subsídios para plantações para produção de combustíveis.
Outras conclusões do relatório
- Mais da metade de todos os fertilizantes sintéticos de nitrogênio produzidos na história foram usados nos últimos 25 anos;
- Em 2005, as dez maiores corporações de agricultura e sementes controlavam metade das vendas de sementes, as cinco maiores companhias de comércio de grãos ocupavam 75% do mercado, e os dez maiores produtores de pesticidas forneciam 84% dos produtos do setor;
- O comércio internacional de bens da agricultura cresceu dez vezes desde os anos 1960;
- Neste período, foi criado um mercado global do agronegócio, caracterizado pela alta concentração, um rápido crescimento da parcela de cadeias de supermercado, e um mercado crescente de fertilizantes e pesticidas;
- O preço global dos alimentos mantém-se abaixo do pico durante a crise de 2008, mas mais caro que antes da crise na maior parte dos países em desenvolvimento.
Fonte: ecodesenvolvimento.org