Aula de Literatura
O Alienista de Machado de Assis por Yayá Portugal
Recebidos os resumos que comprovava a leitura do livro em conjunto com as respostas do questionário de interpretação de texto, o professor pergunta aos alunos se eles gostaram da história do livro O Alienista de Machado de Assis.
Os alunos disseram que sim com um leve sorriso no rosto.
O professor Cícero olha para a parede de cor gelo nos fundos da sala de aula e o seu olhar vibra. O silêncio se faz e os alunos acompanham o olhar do professor, o olhar que congelou os sorrisos. De súbito, o mestre enfrenta a classe:
"_Gostaram do livro? O Dr. Simão Bacamarte não concedeu sequer o exílio a nenhuma das suas vítimas. Ele os aprisionou dentro da cidade como doentes mentais na malfadada Casa Verde. E, assim procedendo, proclamou os seus opositores em incapazes para o resto das suas vidas. Mesmo depois, quando forem libertos dessa casa infame, o exílio de nada servirá se, como condição de adequamento, eles precisarem de um acompanhante eterno em suas vidas para provarem que são saudáveis e que tudo não passara de um equívoco.
Dessa maneira, a cidade se manterá com o mesmo grupo no poder durante a vida do Dr. Simão e ele fará o seu sucessor em quantas eleições quiser sem ao menos um questionamento. Eu falo de eleições livres, prestem atenção ao fato.
Diletos alunos, não se permitam alienar da realidade, não se percam em fantasias que os levarão a autodestruição. Deixem a sociedade existir.
Eis aqui uma confissão, todos gostam de confissões: Combato José de Alencar e o seu romantismo, embora compreenda os motivos íntimos que o levaram a ter como motivação o amor feliz e idealizado entre homem e mulher.
Eu saí do seminário e me casei. Não, não foi uma decisão fácil, disse em tom exasperado.
Voltemos ao livro: é preciso dizer que o ser humano tende a acomodação, a aceitar pequenas fraudes no dia a dia e a ausência de troco ou o troco em forma de mercadoria, que é ilegal, mas é aceito. Mas o que não nos pertence, devolvemos, somos cidadãos exemplares. Eu nem cito o advogado das causas perdidas porque este homem escolheu advogar as causas perdidas e, honradamente, aceitou as cláusulas contratuais com o ônus e o bônus da causa e assume o que faz.
Diletos, saibam que aos poucos, nos permitimos nos alienar e quando nos damos conta, estamos em nossas residências sem poder sair e assistiremos a vida pelos meios de comunicação. Estaremos na nossa própria casa verde. E, o pior, é que de tão cansados com esse estado de absurdos tidos como normais, a vida não passará de um jogo comercial e a sua essência, o motivos de existirmos estará nas mãos do Dr. Simão bacamarte. Sentiremos-nos culpados e a nossa culpa será a preguiça que nos move, temos aqui a premissa falsa que leva a resultados enganosos. E, se não nos culparmos, não faltará um cabo eleitoral para nos acusar de auto-isolamento, de depressão, de excentricidade ou exotismo.
Depois do exposto, reflito se, Machado de Assis não escreveu este livro no verbo presente para que fosse lido pelos leitores de todos os tempos. O personagem padre Lopes, que acha perigosa a atuação do Dr. Simão Bacamarte diz textualmente: ‘Com a definição atual, que à de todos os tempos’. Não será o livro atual e interessante? O padre Lopes questiona a transposição da cerca, os limites da sanidade transpostos. Creio de coração limpo, que a cidade de Itaguaí deseja e tem como norma transpor a cerca no caminho inverso à insanidade, a cidade deseja a razão e a lucidez como fonte de todo o poder.
No livro, a revolta do barbeiro Porfino é debelada pelo destacamento. NÃO poderia ser de outra maneira, a cidade que despreza a justiça como meio de garantir a equidade, sofre a injustiça que busca. Os mecanismos legais existem para a defesa dos cidadãos; e, me digam por que motivo o cidadão teme represálias quando busca a justiça? Os cidadãos preferem a calma e o sossego da Casa Verde, o medo da ilegítima causa?
Perdoem-me queridos alunos, a exposição é complexa. Sinto-me presente ao Largo de São Francisco ao discorrer sobre este livro.
Bate o sinal. Os alunos aplaudem em pé o mestre de português,