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Notícias Incomuns

10 fev 2017 às 10:03

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Tive um longo debate com uma amiga, a Izabel. Ela resolveu tacar na minha cara a teoria que formulara, sugerindo que jornalistas nada mais são do que sujeitos que se dedicam a propagar mundo afora "energias negativas". "Vocês só dão notícias ruins", sentenciou a moça.

Fiquei bravo. Alto lá, dona Izabel! Jornalistas noticiam as coisas que acontecem. Não é culpa nossa se os políticos são corruptos, a natureza foi devastada a ponto de transformar o clima em uma bagunça e alguns malucos querem instituir um califado na Síria e no Iraque.

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Além disso, entre uma tragédia e outra, costumamos mostrar exemplos positivos, boas histórias, iniciativas empreendedoras. Ela fez um muxoxo, pegou o celular, abriu o portal mantido por um grande jornal e começou a ler em voz alta as manchetes. Todas desanimadoras. Eu disse basta no momento em que minha amiga destacou a seguinte: "Brasil registrou cinco estupros por hora em 2015."

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Dei-me por vencido. A Bel estava cheia de argumentos. Como forma de homenageá-la, redijo a seguir uma notícia como ela disse que gostaria de ver nos jornais: "Histórias da vida real, como o cotidiano das pessoas realmente é."

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Tudo tranquilo no Jardim Roveri
Bairro da Zona Leste de Londrina tem mais uma manhã sossegada, sem sobressaltos


A quinta-feira começou com muita normalidade no Jardim Roveri, bairro próximo ao Aeroporto de Londrina. O único movimento mais intenso entre os moradores foi registrado por volta das 7h30, quando alguns deixaram as suas casas, a maioria utilizando carros, para seguir rumo ao trabalho.

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A temperatura estava agradável, por volta de 21 graus, de acordo com o Instituto Tecnológico Simepar. Contabilista, João Martins, 53 anos, cantarolava quando desceu do automóvel, logo após tirá-lo da garagem, para fechar o portão. "Mais um dia que começa e a semana já vai terminando. Vamos que vamos", declarou.


A breve parada para a entrevista foi providencial para que não ficasse para trás um documento importante que Martins deveria levar para o escritório. Quando ele já entrava novamente em seu Gol, Vera Martins, 51, mulher do contador, veio apressada trazendo na mão um papel que o marido esquecera sobre a mesa da sala de jantar. Ele a agradeceu. Deram um selinho e o homem partiu. Vera ficou acenando, do portão, enquanto dizia. "Ah, o João, sempre tão esquecido."

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Mas nem tudo são flores no Roveri. Há também folhas, muitas folhas de árvores, derrubadas pela ventania do dia anterior, que trouxe uma forte chuva, responsável por fazer a temperatura cair dos trinta e tantos para os vinte e poucos. Dona Rosimary Mariani, que não quis declarar a idade, varria tranquilamente a calçada de sua casa, na Rua Elizabeth Kenny.


Questionada sobre a dificuldade do serviço, disse que não havia do que reclamar. "Folhas caem de árvores desde que o mundo é mundo. Hoje tem um pouco mais por causa da ventania. Mas temos que ver pelo lado bom: refrescou um pouco."

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O marido dela, André Mariani, 71, vendo, da janela da cozinha, a mulher conversar com um homem, não perdeu tempo. Trouxe uma xícara de café para o estranho. E puxou conversa sobre futebol.


Terminando o trabalho de reportagem, encontramos Madalena Bonfim, 57, que passeava na Avenida Paul Harris, com seu cachorrinho, um poodle que atende por Benji. Ela queria reclamar sobre algumas calçadas do Roveri, que estão muito danificadas, fazendo com que tenha que andar na rua, expondo-se ao perigo do trânsito. Mas não pudemos atendê-la, pois, se assim fizéssemos, esta notícia ficaria negativa, desagradando nossa leitora Izabel Souza, 38, enfermeira.

A crônica acima é integrante da coletânea "Notícias Incomuns: e outras crônicas escolhidas", livro de autoria deste repórter. Custa entre R$ 10,00 e R$ 15,00 e está à venda nas Livrarias Curitiba (Shopping Catuaí); Livraria da Sílvia (Rua Belo Horizonte, 900); Banca Rodeio (Calçadão, ao lado do Restaurante Rodeio), Banca do Tito (Centro Comercial da Rua Piauí) e Banca Goiás (Rua Goiás com Pernambuco).


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