Da série "bastidores da notícia"
Já era noite da sexta-feira, dia 23/01, quando desembarquei em Corumbá-MS. A ideia (agora sem acento) era ir até a cidade de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, a 640 km da fronteira com o Brasil, para entrevistar brasileiros que são agricultores no país vizinho.
A viagem podia ser feita de avião, mas eu já estava pelo estado do Mato Grosso do Sul para fazer uma outra reportagem, por isso decidi entrar por terra, pela cidade de Puerto Soares, que fica do ladinho de Corumbá. Dessa forma, poderia encarar 18 horas no famoso "trem da morte" até Santa Cruz, aproveitando o ensejo para fazer uma matéria sobre o trem, que partiria às 12h30 do dia seguinte.
Na manhã de sábado, acordei cedo e tomei o rumo da Bolívia, de táxi. Na bagagem, passaporte, RG e a carteira de vacinação, mas a nacional. Eu já sabia que se exige a carteira de vacina (ou vacuna, em espanhol) internacional para entrar naquele país. Mesmo assim, insisti em não providenciá-la. Primeiro por falta de tempo, já que a viagem foi planejada de última hora; segundo para ver na prática como funciona a corrupção por lá.
O taxista brasileiro me deixou na aduana boliviana, onde um gentil taxista boliviano, Pablo Taquichire, fez as honras da casa, praticamente tomando as minhas malas e colocando dentro do carro dele. Fui carimbar o passaporte. O policial que me atendeu só sabia dizer:
- Vacuna, vacuna. Onde está vacuna?
Dei um migué e entreguei a carteira nacional. Ele disse que não servia. Tinha que ser a internacional (apesar de a nacional mostrar que eu estou com todas as vacinas em dia). Expliquei que sou jornalista e que precisava entrar para trabalhar. Não adiantou. Ele explicou, de um modo bem grosseiro, que eu devia ir até Corumbá providenciar a carteira internacional.
- Mas hoje é sábado. Não vou conseguir o documento. Preciso trabalhar. Não há mais nada que eu possa fazer? - indaguei.
- Eu não falo mais com você. Saia daqui!
Depois dessa resposta, um outro policial esbravejou para que eu tirasse a minha mochila que estava sobre uma mesa. Encantado com a gentileza, saí. Fui até Pablo e pedi que ele devolvesse as minhas malas, pois teria que voltar ao Brasil e arranjar uma vacuna. Sabe-se lá como.
Porém, Pablo disse que a falta da carteira internacional não era problema:
- Yo arranjo uma para ti!!!
Respondi que topava descolar uma carteira, desde que não fosse falsa. Então, ele me levou até a prefeitura local, onde um cidadão fica de plantão só para descolar carteiras a turistas desavisados que topem pagar 80 bolivianos, a moeda local (em torno de R$ 30). Paguei e saí com uma carteira pronta em menos de dois minutos.
Voltei à aduana. Atendeu-me o mesmo policial de antes. Ele fez um charminho para aceitar a carteira comprada na prefeitura de Puerto Soares, mas aceitou. Passaporte carimbado. Viva, a Bolívia me aceitou por 30 dias!!!
É hora de encarar o trem da morte. Não perca essa história no post de amanhã (terça-feira). Agora fala sério: não ficou um charme - para não dizer frescura - essa coisa de contar a aventura boliviana em capítulos?
Antes que você diga palavrões sobre a minha pessoa, fica a foto do sr. Pablo Taquichire, meu taxista, e seu carro exuberante.