Tive a grande sorte de arranjar como primeiro emprego um serviço no Cismepar, o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paranapanema, que faz o atendimento ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SUS). Trabalhei por lá durante os quatro anos da faculdade.
O Cismepar tem em seus quadros mais de 150 médicos, de diversas especialidades. Atende gente que não acaba mais. Os usuários são humildes, simples, pobres. Aprendi muito por lá. Quando entrei, tinha 18 anos de idade e cabeça de 15. Saí com 22 anos de idade e muito mais maduro.
Lá, encantei-me com o trabalho de alguns médicos. Decepcionei-me com o jeito de outros. Vi doutores, como o urologista Cid Janene, fazerem um grande esforço para que todos os seus pacientes que precisavam tivessem acesso à litotripsia, que é um procedimento caro para "estourar" cálculos renais por meio de ondas de choque. Vi esse mesmo médico atender a todos com grande carinho.
Vi o cirurgião infantil Sylvio Vilari atender a cada criança com um amor invejável. Quando terminava as consultas do dia, ele deixava o número do celular anotado na recepção para que ligássemos caso chegasse algum pacientinho atrasado.
Testemunhei que a cardiologista Maria Jurema dedicava quarenta minutos a cada paciente. Tive a sorte de conviver também com dra. Toshiko Eik, que ocupava cargo de gerência e não media esforços para arranjar vagas a quem precisasse, sempre sorrindo, sempre de alto astral.
Depois, formei-me jornalista e fui ser assessor de imprensa do Hospital do Coração. Aí conheci o dr. Kengo Baba, um mestre da cirurgia cardíaca. Uma humildade de encantar. Dedicado aos seus pacientes, sempre pronto a fazer o melhor por eles. Tem também o dr. Arnaldo Okino, o responsável pelos transplantes cardíacos realizados em Londrina. Ele cuida de cada transplantado como se estivesse cuidando de seu próprio pai. E olha que faz alguns atendimentos de revisão sem nem receber do SUS.
Há muitos outros doutores e doutoras que me encantaram, que me deixaram felizes e entusiasmado com a medicina.
Porém, nessa minha caminhada pela área médica, de coração cortado, vi homens e mulheres de branco maltratando pacientes, desprezando-os, fazendo pouco caso. Mas esses são minoria e nem merecem ter os nomes citados por aqui, afinal, como diz o ditado, "se não há nada de bom para se dizer sobre uma pessoa, é melhor não dizer nada".
Aí vem o caso da baderna no HU. Os baderneiros são minoria. Será que não dá para eles passarem um tempo acompanhando o trabalho dos médicos cujos nomes citei acima? Acho que seria uma boa, pois caráter, já nascemos com ele, mas também podemos absorvê-lo de quem tem para dar e vender.