Dedo de prosa publicado orginalmente na FOLHA RURAL de 20/06/2008.
Compadre, esta semana foi de foto aqui na redação da FOLHA. Acontece que alguns jornalistas tiveram que posar para um retrato daqueles 3 por 4 por conta de umas credenciais que terão de ser feitas. Teve gente que se produziu, passou até perfume. Brincadeiras à parte, impressiona como tudo é prático hoje na fotografia, que agora é digital. Não precisa mais de filme e as fotos são enviadas para a revelação por e-mail. Coisa doida, né?
E olha que não faz muito tempo que posar para a foto era coisa quase solene. Vez em quando fuço nos álbuns de fotografia do meu pai. Filho do distrito do Malu, que pertence ao município de Terra Boa, região noroeste do Paraná, ele tem fotos de criança que comprovam o quanto era especial o momento de tirar um retrato.
Geralmente era programa para a família toda, e com roupa de gala. Meu pai conta que a família Santin saía do pequeno sítio onde plantavam café e ia até a cidade para a foto. Os meninos de calça pelo meio da canela e terninho. As meninas com o vestidinho usado na primeira comunhão. Meu avô de terno, minha avó de vestido. Todo mundo de cara séria e em posição de sentido. Até hoje, na era das fotografias pra lá de descontraídas, meu pai ainda faz posição de sentido para as fotos, o que lhe rende um sarrinho por parte dos filhos. É que ele continua achando que foto é coisa muito séria.
Muitas vezes quem fazia as fotos da turma, principalmente se fosse o caso de documento, era o lambe-lambe, profissional presente em quase todas as praças de igreja matriz. Em Londrina, alguns ainda resistem na Praça da Bandeira, ao lado da Catedral. Mas eles já foram dezenas. Eu mesmo posei para a primeira foto de documento da minha vida ali na praça, em um lambe-lambe, levado pelo meu pai, é claro.
Lembro que fiquei maravilhado com o processo de trabalho do fotógrafo. Ali mesmo, dentro daquela caixinha de madeira ele revelava as fotos, passando fixador e revelador. Depois jogava em um balde com água para enxaguar. Ficava me perguntando porque raios o homem tinha que lamber o papel fotográfico, o que rendeu a esses profissionais o curioso nome de lambe-lambe. Agora finalmente descobri, o editor de fotografia aqui da FOLHA, Sérgio Ranalli, explica que a lambida é para descobrir de que lado está a emulsão, que é a substância química gelatinosa que permite ao papel ''aprissionar'' a luz. Ah, bom! Finalmente. Agora, só me falta descobrir como é que um montão de fotos cabem dentro de um computador.
E você compadre, já posou com a família toda para algum retrato? Fala sério, era uma coisa simples, mas acabava proporcionando um bom e solene momento de união familiar. É ou não é?