Publicada originalmente na FOLHA RURAL de hoje, 13/06.
Outro dia estávamos eu e mais um compadre bom de prosa barbaridade – embora um cadinho mentiroso – jogando conversa fora. Papo vem, papo vai, o assunto descambou para o lado da pescaria, com o compadre contando proezas das maiores. Só faltou ele dizer que já pescou uma baleia no lago Igapó de Londrina. Pois bem, entre as muitas histórias, ele contou que já pescou um dourado de 22 quilos no Rio Tibagi. Impossível não é. Daí começamos a lamentar pelo fato desse rio, em breve, abrigar hidrelétricas. Logo, estávamos falando da riqueza do Paraná, Estado servido de grandes rios, terra boa e gente trabalhadora.
Porém, há uma outra riqueza no nosso Estado, a cultural e folclórica. Basta colocarmos o pé na estrada para escutarmos coisas pra lá de interessantes. Recentemente, estive na centenária Tomazina, no Norte Pioneiro, região que foi porta de entrada para a colonização de todo o ‘Nortão’ paranaense. Olha só, lá em Tomazina tem gente que evita de todas as maneiras cometer qualquer pecado por medo de uma cobra gigantesca que está adormecida embaixo da cidade. O causo é mais ou menos assim: no finalzinho do século 19, quando o município começou a ser colonizado, duas moças engravidaram. Ambas não tinham marido e devido aos costumes morais rigorosos da época, esconderam a gravidez. Quando as crianças nasceram, as duas tiveram a mesma idéia: abandonar os bebês no rio das Cinzas, que margeia a cidade. Uma das mulheres jogou o filho num ponto de corredeiras, um pouco pra cima de onde está a Paróquia Nossa Senhora Aparecida. A outra, pôs seu filho em um ponto de remanso das águas, que o pessoal chama de ‘prainha’, pra baixo um pouco da igreja. Acontece que perto da tal prainha tem um redemoinho. Então, o segundo bebê, em vez de descer o Cinzas, subiu, indo se encontrar com o outro bebê que descia o rio. Reza a lenda que quando as crianças se encontraram nas águas, juntaram-se transformando em uma enorme serpente. Logo em seguida, a cobrona se enfiou embaixo da igreja e adormeceu. Tem gente que morreu jurando que viu a cena da cobra enorme cavando a terra e se acomodando sob a paróquia. Outros, ainda vivos, dizem que as rachaduras nas paredes da igreja se devem aos movimentos que a serpente às vezes faz. Tudo indica que os padres daquele tempo em vez de acabar com o mito, preferiram sustentá-lo, dizendo ao povo que, se os tomazinenses pecassem a cobra acordaria e engoliria a cidade. Assim, a lenda ganhou força e resiste até hoje. Curioso, né?
Ah! Antes de terminar vale dizer que Tomazina merece uma visita caso você ainda não a conheça. Lugar bonito, tranquilo e calmo. E já finalizando, diga uma coisa, compadre. E aí na sua querência, tem alguma lenda que causa arrepio até hoje na turma? Se tiver, conte pra gente.