Da série "exclusivas"
Causa-me indignação os transtornos que esta porcaria chamada crack nos causa. Por isso, fiz uma materialzinho sobre o assunto. Publico em duas partes aqui no blog:
Crack
O caminho e o preço da droga
- A grande maioria do crack que chega à região de Londrina é proveniente do Paraguai e atravessa clandestinamente o lago de Itaipu.
- O meio de transporte mais utilizado pelos traficantes é o rodoviário. Eles utilizam partes internas dos automóveis para esconder a droga.
- Um quilo de crack sai do Paraguai por R$ 6 mil. No Brasil, a peça de um quilo de crack vale R$ 11 mil.
- Com um grama de crack, os traficantes fazem quatro pedras. Cada pedra é vendida a pelo menos R$ 5,00.
- Vendido em pedras, um quilo de crack pode render até R$ 20 mil. Em 2008, o Denarc de Londrina apreendeu mais de 60 quilos da droga.
Fonte: Michael Araújo, delegado do Denarc de Londrina.
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Uma morte anunciada
O relato que você vai ler é real. Luis Gustavo de Souza Oliveira, 14 anos, foi morto, alvejado por diversos disparos de arma de fogo, na noite do dia 20 de fevereiro. Quem conta a história é a professora aposentada Josefa Alves de Souza, a ''mãe de coração'' do garoto. Ela criou o menino devido à falta de condições financeiras da mãe biológica, que era só uma adolescente quando engravidou do menino. O pai é desconhecido.
''Ele teve sérios problemas gástricos e intestinais na infância. Além disso, sempre foi muito agitado, hiperativo. Por isso, quando chegou à adolescência, fiz de tudo para dar atividade ao Luiz Gustavo, inclusive o matriculei na escolinha de futebol.
Quando ele estava na 5ª série eu já soube que ele estava aprontando. Troquei-o de escola, mas não adiantou, pois o tráfico está plantado em todos os lugares. Por eu querer colocá-lo na linha, revoltou-se contra mim e voltou para a casa da mãe. Mesmo assim continuei dando alimentação e vestimenta. Um dia, ele ameaçou suicídio. Impedi. Voltou a morar comigo.
Depois, ele me contou que não era usuário de drogas, mas era 'aviãozinho' do tráfico. Quase morri quando escutei. É muito triste, pois essa molecada apronta, mas quem faz a cabeça deles é sempre um adulto. É impressionante, ele sempre conversou muito comigo, mas nunca, em hipótese alguma, disse quem era o 'peixe grande'.
Fiz mudanças de escolas outras vezes, mas em todas elas ele encontrava gente do tráfico. As coisas ficaram piores quando ele tentou assaltar um ônibus na companhia de outros menores e de adultos também, mas esse crime não deu certo e ele foi parar no Centro de Sócio Educação (Cense). Começou a bater gente aqui no portão querendo dinheiro porque o assaltou não deu certo. O recado era claro: ou eu pagava ou matariam ele. Paguei R$ 50.
Depois que ele saiu do Cense - foram 45 dias de detenção - as cobranças ficaram constantes. As vendas de drogas que ele fazia não davam certo, pois ele não conseguia receber dos adultos para os quais vendiam. As ameaças eram muitas. Começaram a bater no Luiz Gustavo. Ele chegou a apanhar ao ponto de quebrar os ossos da face e precisou passar por cirurgia. No fim das contas, paguei mais de R$ 2 mil para os traficantes.
Comecei a andar com ele para todos os lados. Fiz com que frequentasse o projeto Murialdo. Ele estava melhorando. Mas era só ele sair por alguns instantes sem a minha presença que voltava espancado. Várias vezes voltou arrebentado. Um dia antes de morrer, apanhou muito. Sempre me falava que os traficantes queriam mais dinheiro, mas eu já não tinha de onde tirar.
A morte era anunciada. No dia em que ela aconteceu, no período da tarde, vários motoqueiros fizeram uma algazarra em frente à minha casa. Eles estavam comemorando o que aconteceria à noite. Antes de sair de casa para levar os tiros, Luiz Gustavo deixou um anjo desenhado para mim.''