Despertar

Quando a essência se perde, é hora de recordar

18 jun 2012 às 23:43


Santiago Caruso - Lovers, 2008

É esse horror da solidão, a necessidade de esquecer o seu ego em carne exterior, que o homem nobre chama necessidade de amar.
Charles Baudelaire


Como é fácil confundir amor com paixão nos tempos de hoje. Como é simples se envolver com alguém e não ser correspondido. Amar e não ser amado. Ou realmente acreditar que se ama alguém. Até viver o dia em que olhará para trás e entenderá que de nada serviu relacionamentos fúteis, instantâneos, breves demais, superficiais demais. E então chega o dia que se aprende que amar é algo que vai além. É o suprassumo do verdadeiro sentimento. É algo tão nobre que chega a acontecer só no ato do pensar. Precioso. Intocável. Feito jóia preservada num cofre que não pode ser retirado do lugar.


Nos tempos de hoje não se sabe o que é o verdadeiro amar. Conhece-se apenas a necessidade de amar. E a necessidade de amar surge dessa carência afetiva que muitos andam sentindo por ai. É claro que há o amor fraterno, o amor de amigos e o amor entre desconhecidos que se respeitam e se solidarizam-se entre si. Já o amor entre um homem e uma mulher tem estado há anos luz de distância de nossa limitada capacidade de entender.


Falta respeito onde deveria haver a compaixão. Falta companhia onde deveria haver o sentimento mútuo. Falta verdade onde deveria haver diálogo. E falta a essência se manifestando na maneira mais natural possível para encarar o que poderia ser muito mais simples: duas pessoas que se amam preocupadas com o bem estar uma da outra numa sintonia perfeita na dedicação do bem, do respeito mútuo, da verdade.


O que se vê hoje em dia são relacionamentos fugazes. O desejo da carne que fala mais alto que qualquer compreensão. A ausência do saber ouvir a si mesmo. O descuido com o que temos de mais precioso em nossas vidas: o nosso coração.


Amar não significa entregar-se a alguém. Amar significa estar em alguém. Viver ao lado, nunca a frente, nem atrás. Não se subjulgar e não se permitir ser subjulgado. Respeitar e ser respeitado. Compreender que o que está acontecendo ali é uma concentração de energias num bem em comum. E mais do que isso: permitir que as coisas aconteçam sem cobranças, sem expectativas, sem lamentações.


Amar alguém significa sofer junto àquela pessoa todo seu momento de transformação. Significa encarar uma vida que não é sua com o mesmo carinho e cuidado como se fosse. Abraçar as causas, vestir a camisa, provar o tempero diferente, abrir mão, saber esperar. Amar alguém vai muito além da certeza de estar com esse alguém. O ato de amar é livre e não depende de mais ninguém para que esse amor aconteça no seu coração.

Porque o amor é liberdade. Quando se ama, não há medo de se perder nada porque já não se tem, só se sente. O amor não é posse, mas sim um profundo ato de doar-se. O amor é constante energia pairando no ar disponível para aqueles que a sabem valorizar. E se a pessoa que você ama não tem te valorizado, meu amigo, acredite: o azar não é seu, mas totalmente dela. Porque você continuará tendo amor para dar. E continuará disponível ao amor. Basta que, diferente do que tem acontecido, as pessoas tenham olhos para enxergar o que se tem perdido por aí, que nada tem a ver com carência de solidão, mas sim de evolução e desapego: valoriza-se os que querem estar junto de ti e liberta para sempre aqueles que buscam nada além de um momento. Ninguém perde, ninguém ganha, é só a necessidade da vida acontecendo a todo instante sob nosso controle.


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