Dedo de moça

Covardia

31 dez 1969 às 21:33
Digo que por mais coisas que a gente veja nessa vida, sempre existe algo para nos surpreender.
O triste é quando as surpresas são negativas.
Sexta- feira à noite, chuva fina caindo, começo de ano.
Eu assistia a um filme bacana (Um crime Americano, com Ellen Page, atriz de Juno. Conta a história real de uma menina que foi torturada por uma família inteira nos Estados Unidos em 1965) quando ouvi gritos do lado de fora da minha janela.
Moro em um área central da cidade com bares por perto e é comum ouvir uma discussão ou briga vez ou outra.
Mas esses barulhos me assustaram a ponto de resolver olhar para fora.
Um rapaz aparentando 20 anos, corpo forte, bem vestido, atravessava a rua em direção ao muro do lado da minha casa gritando com alguém. Ele perguntava para seu ``inimigo´´ por que ele estava ali e o xingava de vários nomes. De onde eu estava não conseguia ver com quem ele falava, mas ninguém respondeu nada.
Quando o rapaz sumiu, começou a parte mais ruim. Uma pessoa gritava a cada vez que levava uma pancada. Eu podia ouvir os barulhos dos chutes ou socos pelo som oco que o corpo fazia ao bater na porta de uma loja. A pessoa agredida só gritava que estava com a perna quebrada e pedia ajuda.
Claro que não desci para ajudar enquanto a briga se seguiu (cerca de 15 segundos), mas liguei para a polícia e esperei na janela para ver se enxergava o agressor com mais atenção.
Ele atravessou a rua novamente e encontrou um amigo do outro lado da rua. Os dois seguiram andando pela rua chutando latas e plantas.
Quando desci para ver o havia realmente acontecido, encontrei do lado de minha casa três homens, aparentando meia-idade, mal vestidos, visivelmente bêbados e inofensivos. Perguntei se estavam bem e o mais novo deles me disse que estavam sentados quando o rapaz começou a agredi-los, machucando um deles na perna.
Perguntei se podia ajudar e eles pediram comida e água.
Minutos depois a polícia chegou, mas o rapaz já havia ido embora.
Tudo em ordem, voltei para minha casa assustada e comovida.
Pior surpresa: meia hora depois o rapaz voltou e recomeçou a ofender os senhores. Dessa vez não ouvi agressões, mas muito nome feio.
Logo depois vi o nosso agressor saindo, cabeça erguida, sem camisa, se sentindo um verdadeiro macho.
Não pude acreditar que alguém se ache realmente homem simplesmente porque bateu em três homens bêbados e mais velhos, que mal se agüentavam em pé. Tomara que eu nunca conheça um cara assim.
E mais: como alguém se sente no direito de agredir ferozmente um desconhecido na rua, de maneira gratuita.
Fiquei pensando onde está a compaixão? O Natal mal passou e já temos isso na rua? Como estaremos no final do ano? Tomara que melhor.

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