Dedo de moça

Carentes de amor

31 dez 1969 às 21:33

Um amigo me mandou esse texto e achei bacana. Resolvi dividir com vcs, leitores. Como da última vez que isso aconteceu alguém me esculhambou dizendo que o texto não era do autor dito, aí vai o recado: me disseram que é do Jabor, não sei e nem tenho saco para pesquisar. Isso aqui é um blog, não um site para pesquisa acadêmica. Só acho que vale a pena pensar no assunto abaixo, independente de quem o tenha escrito.

ESTAMOS COM FOME DE AMOR
(Arnaldo Jabor)


Uma vez Renato Russo disse com uma
sabedoria ímpar: 'Digam o que
disserem, o mal do século é a solidão'
Pretensiosamente digo que assino
embaixo sem dúvida alguma. Parem pra
notar, os sinais estão batendo em
nossa cara todos os dias. Baladas
recheadas de garotas lindas, com
roupas cada vez mais micros e
transparentes, danças e poses em
closes ginecológicos, chegam sozinhas
e saem sozinhas.


Empresários, advogados, engenheiros
que estudaram, trabalharam, alcançaram
sucesso profissional e, sozinhos. Tem
mulher contratando homem para dançar
com elas em bailes, os novíssimos
'personal dancers', incrível. E não é só
sexo não. Se fosse, era resolvido
fácil, alguém duvída?
Estamos é com carência de passear de
mãos dadas, dar e receber carinho sem
necessariamente ter que depois mostrar
performances dignas de um atleta
olímpico, fazer um jantar pra quem
você gosta e depois saber que vão
'apenas' dormir abraçados, essas
coisas simples que perdemos
na marcha de uma evolução cega.


Pode fazer tudo, desde que não
interrompa a carreira, a produção.
Tornamos-nos máquinas e agora estamos
desesperados por não saber como voltar
a 'sentir'. Quem duvida do que estou dizendo,
dá uma olhada no site de
relacionamentos ORKUT, o número que
comunidades como: 'Quero um amor pra
vida toda!', 'Eu sou pra casar!' até a
desesperançada 'Nasci pra ser
sozinho!' Unindo milhares ou melhor
milhões de solitários em meio a uma
multidão de rostos cada vez mais
estranhos, plásticos, quase etéreos e
inacessíveis.


Vivemos cada vez mais tempo,
retardamos o envelhecimento e estamos
a cada dia mais belos e mais sozinhos.
Sei que estou parecendo o solteirão
infeliz, mas pelo contrário, pra
chegar a escrever essas bobagens (mais
que verdadeiras) é preciso encarar os
fantasmas de frente e aceitar essa
verdade de cara limpa.


Todo mundo quer ter alguém ao seu
lado, mas hoje em dia é feio, demodê,
brega. Alô gente! Felicidade, amor,
todas essas emoções nos fazem parecer
ridículos, abobalhados, e daí? Seja
ridículo, não seja frustrado, 'pague
mico', saia gritando e falando
bobagens, você vai descobrir mais cedo
ou mais tarde que o tempo pra ser
feliz é curto, e cada instante que vai
embora não volta mais (estou muito
brega!), aquela pessoa que passou hoje
por você na rua, talvez nunca mais
volte a vê-la, quem sabe ali estivesse
a oportunidade de um sorriso à dois.


Quem disse que ser adulto é ser
ranzinza? Um ditado tibetano diz que
se um problema é grande demais, não
pense nele. Se ele é pequeno demais,
pra quê pensar nele?

Dá pra ser um homem de negócios e
tomar iogurte com o dedo ou uma
advogada de sucesso que adora rir de
si mesma por ser estabanada; o que
realmente não dá é para continuarmos
achando que viver é out, que o vento
não pode desmanchar o nosso cabelo ou
que eu não posso me aventurar a dizer
pra alguém: 'vamos ter bons e maus
momentos e uma hora ou outra, um dos
dois ou quem sabe os dois, vão querer
pular fora, mas se eu não pedir que
fique comigo tenho certeza de que vou
me arrepender pelo resto da vida'.
Antes idiota que infeliz!


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