A internet trouxe muitas coisas boas para a sociedade. Acabou com o monopólio da informação. Deu voz a quem não tinha. Facilitou o acesso a informação. É uma lista grande de benefícios.
No entanto, se tem algo de muito ruim, pernicioso na internet é a liberdade sem limites para as pessoas opininarem sobre tudo o tempo todo. Vejam bem, não sou contra a liberdade. Ela é essencial, sobretudo em um país com tão pouca experiência e tradição na área como o nosso.
O problema com a internet é que falta às pessoas um pouco de bom senso. Opiniar sobre algo é refletir, analisar o assunto antes de defender um ponto de vista. No entanto, escondido atrás da tela do computador o cidadão se sente no direito de opinar sobre tudo, de defender o indefensável, de ofender o interlocutor, de falar sem ouvir, mesmo sem saber muito bem do que está falando.
Vivemos numa sociedade sem tradição de debate. É só ver nossos "debates eleitorais". São monólogos disciplinados em que todo mundo fala e ninguém ouve. Na internet, a tradição do monólogo permanece.
Uma conversa, um diálogo realmente implica em ouvir o outro, refletir sobre suas colocações, contestá-las ou até absorvê-las.
Quando visito o blog de alguns amigos, ou sites de notícias que permitem que o usuário sempre me deparo com comentários no mínimo dispoensáveis. São muitos os que, por não concordarem com o autor, partem para agressão verbal. Há outros que simplesmente não entenderam o texto publicado e passam a fazer críticas completamente sem fundamento.
Isso me faz lembrar muito de uma aula que tive no mestrado. Dizia a professora que a internet permite, incenttiva o debate, que as pessoas iriam trocar mais informação, aprender mais, ser mais críticas por causa do acesso à rede.
A realidade nos mostra que não é assim. Não é a ferramenta tecnológica que irá nos ensinar a debater. Temos que nós mesmos aprender a dialogar, independente do suporte que damos a isso.
Sem saber trocar, ouvir o outro, questionar, refletir o cidadão que vai para internet debater nada mais faz do que reproduzir na rede a falta de tolerância ao pensamento alheio que tem na vida real.
Enquanto não aprendemos a lição, toda tecnologia, todos os recursos de comunicação permanecerão sendo suporte para um modo antigo, raso e infantil de se comunicar sem entender, sem absorver, sem crescer. Vamos todos continuar falando sem ninguém nos ouvir.