Beirada nipônica

Quando morrer é nobre

09 ago 2014 às 03:27

Não canso de escrever sobre a pressão que a sociedade japonesa exerce sobre a população, sejam estudantes, donas de casa, operários ou profissionais de alta patente.
As crianças em idade escolar são as que mais sofrem porque está implantada nas sublinhas das condutas sociais, que é inaceitável, vergonhoso, uma adolescente não ingressar numa universidade.
Aí os pais se matam para prepará-los, pagando cursinhos desde os nove anos, idade média dos alunos que começam a fazer cursos preparatórios para o vestibular, esquecendo que as crianças precisam, sobretudo, brincarem uns com os outros.
O tempo passa e esses meninos, agora homens, continuam a sofrer pressões de todos os lados, enfrentando cobranças descabidas, hierarquia rígida, submissão total aos mais velhos, mesmo que eles estejam completamente caducos e esclerosados. Nada contra os velhinhos, apenas que a vida precisa seguir, e são os mais jovens que darão seqüência nisso tudo.
No começo desta semana foi encontrado enforcado em seu próprio laboratório um dos mais renomados pesquisadores do Japão. Ele era médico formado pela Universidade de Kyoto e chefe de um centro de pesquisas na cidade de Kobe, estado de Hyogo-ken.
Yoshiki Sasai, 52 anos tirou a própria vida depois de sentir-se constrangido por ser responsável pela atuação de Haruriko Obohata, uma mocinha também pesquisadora que ficou mundialmente conhecida por dizer que conseguiu desenvolver em laboratório as células STAP, que poderiam se transformar, em tese, em outros órgãos ajudando na medicina regenerativa. O artigo com detalhes da pesquisa foi publicado na revista Nature.
Após a suspeita de fraude, Yoshiki Sasai foi fortemente pressionado por ser o chefe do laboratório, e por apoiar Obohata, uma jovem de apenas 31 anos. Ele ficou internado por causa do estresse e esta semana tirou sua própria vida. Deixou várias cartas de agradecimento e explicações, mas nenhuma foi apresentada para o grande público.
O suicido no Japão não é considerado covardia, mas uma maneira nobre de mostrar a reparação de um erro, punindo a si mesmo com a morte.
Enquanto isso, os que pressionaram e acusaram o cientista, seguem vivos e sem nada produzirem.

Yoshiki Sasai e Haruriko Obohata


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