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Japão, o sistema que mata!

15 abr 2014 às 11:18

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Sempre fiquei intrigado com algumas coisas que acontecem por aqui. Nestes últimos dias tenho presenciado notícias sobre violência de quase todos os tipos. As imagens são cruéis e não deixam dúvidas sobre o que homem é capaz de fazer quando está fora de si.
Mas o que sempre me deixou encafifado é o enorme quantidade de suicídios que acontece por aqui. E os números só aumentam. Beirando 32 mil mortes por ano, e com a incrível média de quase nove suicídios por dia. Enforcamento, saltos de lugares altos, gás e veneno são os principais meios dos que escolheram morrer. Nesse meio estão todas as classes sociais e as idades variam bastante. O maior grupo são as pessoas entre 25 e 30 anos, idade essa onde se buscam melhores colocações profissionais ou aspiram graus mais altos na escala hierárquica, tão enraizada neste lado do mundo. Mas existem também os velhos, as crianças em idade escolar, principalmente entre o ginásio e o colégio, mulheres de meia idade, solteiros e casados.
Eu nunca entendi direito por que eles se matam, pois olhando ao redor não percebo uma causa exata para isso. Aqui a qualidade de vida de um modo geral é boa, não existem grandes tumultos sociais, o sistema médico e educacional são exemplos para o mundo, a tecnologia é inacreditavelmente avançada, ninguém passa fome ou frio, não existem crianças nas ruas e nem favelas miseráveis. Os pobres existem, mas o sistema de amparo social funciona beirando a perfeição. Então, onde será que está o problema?
Nesses últimos anos, por incumbência profissional, estive mais próximo das pessoas "comuns", aqueles que acordam cedo e saem para o trabalho e os alunos que passam o dia inteiro nas escolas. Nesse período percebi que poucos são aqueles que estão felizes com a vida. Conversando com alguns deles fiquei sabendo como são o sistema de trabalho, as pressões para aumentar a produção, as várias regras de comportamento e a pior de todas, a cobrança silenciosa do grupo a qual você pertence. Entre os alunos é a obrigação de estar sempre entres os primeiros, de entrar nas melhores universidades e depois ser um ótimo profissional, o que significa ganhar bem. Tudo isso misturado ao inverno rigoroso, catástrofes naturais aos montes, hierarquia rígida que não dá margem para diálogo, falta de tempo para o lazer e uma grande prestação de contas das suas ações para a sociedade. A prestação de contas vem em forma de participação em reuniões dos moradores do bairro, voluntários para orientar crianças e jovens nos seus dias de folga, ser membro da associação de pais e mestres da escola do seu filho, ser voluntário nas coleta e reciclagens de lixo, entre outras coisas.
E tem gente que não agüentar viver assim. Tem gente que quer apenas descansar nos seus dias livres. Tem gente que gostaria de fazer outra coisa. Tem gente que não suporta tantas obrigações, entra em depressão, perde a vontade viver por causa dessas cobranças silenciosas e se mata porque não vê outra saída para continuar.
Existe um consenso entre os especialistas de que as coisas precisam mudar, mas nada muda tão rápido e nem radicalmente no país onde a paciência é uma das virtudes.
Nada do que faz uma pessoa tirar sua própria vida está ao alcance dos olhos. As coisas somadas, miúdas e pontudas que vão minando lá dentro, aonde poucos enxergam. Mas o país poderia ajudar em forma de leis que obrigassem as grandes corporações darem mais tempo para os seus funcionários se divertirem, aproximando-os até da família. As escolas também poderiam ser mais flexíveis, com mudanças nas avaliações e mais humanidade. E a sociedade também não precisaria cobrar tanto porque essa cobrança não vem dando certo.


A floresta do suicídio

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