Beirada nipônica

Empreiteiras irresponsáveis

23 abr 2014 às 10:54

Já teve uma época em que havia aproximadamente 300 mil brasileiros no Japão. Dekasseguis que vinham tentar a sorte e juntar alguns ienes para a casa própria ou pagar a faculdade dos filhos. Eram sonhos que podiam virar realidade.
Como as empresas japonesas não estavam preparadas para receberem um contingente tão grande, e principalmente com a cultura tão diferente, tiveram que recorrer às empreiteiras que já alocavam mão de obra japonesa. Assim foram surgindo as "empreiteiras brasileiras". Ofereciam também vários serviços paralelos juntos aos consulados e o setor de imigração. Eram traduções de documentos, entrada para vistos de trabalho, intérpretes em hospitais e órgãos públicos, além dos trâmites para alugar apartamentos, que no início da "era dekassegui" eram bem difíceis.
Toda essa enganação atraiu a massa tupiniquim que deixava a cargo das empreiteiras praticamente tudo. Assim foi criado um circulo vicioso, uma espécie de simbiose aparentemente boa para ambos, mas que ao poucos foi percebido prejudicial ao trabalhador, que perdeu sua autonomia para ir onde quisesse.
Houve empreiteiras que construíram prédios próprios somente para alugar aos brasileiros, embutindo no valor do aluguel a conta da limpeza quando este deixava o imóvel, taxas absurdas de água, luz e gás, e mais outro pouco para um possível dano material. Como sempre, os conterrâneos sem saberem de nada, pagavam tudo sem reclamar.
Além desses abusos, não inscreviam os funcionários no seguro social que engloba o seguro saúde, o seguro desemprego e a aposentadoria. Nem se davam ao trabalho de explicar que esses seguros são leis federais. Deixavam os "companheiros" na ignorância porque não queriam pagar a parte que lhes cabiam como empregadores. Férias remuneradas, nem pensar.
Em plena crise econômica de 2008, essas mesmas empreiteiras colocaram no olho da rua centenas de trabalhadores, que só aí perceberam que estavam completamente desamparados. Sem moradia e nada que lhes garantissem, pelo menos, alguns meses de renda para buscar uma nova colocação ou fazer o caminho de volta para a terra do samba e futebol.
O tempo passou, a produção subiu, e a mão de obra se fez novamente necessária. Aí, outra vez, surgiram esses atravessadores revestidos de gente séria oferecendo trabalhos estáveis e todo tido de assessoria. Alguns até pedem para preencherem a ficha cadastral em busca de emprego diretamente nos seus sites expostos na Internet. O candidato preenche tudo e nem uma mensagem de agradecimento recebe.
É assim que continuam funcionando essas pragas que tanto tem maltratado os trabalhadores brasileiros, que continuam reféns de alguns vigaristas que se aproveitam da fragilidade dessa massa despreparada para trabalhar num país tão diferente como o Japão.
Se nem respostas esses malandros dão para os candidatos, o que mais esperar?

Trabalhador


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