O relógio marcou 13h. Ela teria uma hora de almoço naquela tarde quente de 2 de janeiro para depois retornar ao trabalho em um hospital que fica nas imediações da avenida Bandeirantes. Como fazia bastante calor, resolveu descer até o Zerão e descansar debaixo de uma árvore para tentar espantar o tempo abafado. Distraída mexendo no celular, sequer percebeu a chegada suspeita de dois rapazes descendo as escadarias. Um deles levava um capacete nas mãos. Repentinamente, o outro jovem puxou o aparelho e saiu em disparada. "Enquanto corria, ele ria e debochava de mim", disse a vítima.
Segundo ela, o outro comparsa, com a mão na cintura, "manuseava" uma arma na roupa para assegurar que o crime não tinha sido um fracasso. Prestes a alcançar o Ginásio de Esportes Moringão, o jovem sinalizava para o colega que deveriam sair dali o mais rápido possível. Subiram em uma moto e deram no pé.
Na outra ponta do Zerão, a analista de sistemas tentava se recuperar do roubo. Chamou outras pessoas que passavam pelo espaço de lazer, que trataram de ligar para a Polícia Militar. Minutos depois, veio a notícia de que a dupla tinha sido presa na rua Sergipe. Na verdade, eles não esperavam que encontrariam uma viatura patrulhando a avenida Higienópolis.
Os policiais escreveram no boletim de ocorrência que os ocupantes da moto furaram vários semáforos vermelhos. Quando finalmente foram parados, começaram a surgir as primeiras pendências: o condutor sem a carteira de habilitação e o veículo com uma lista de problemas administrativos. Bastou uma rápida ligação entre PM e vítima para que a confirmação viesse. Eram os ladrões que levaram o celular da mulher.
E lá estava ele na sede da 10ª Subdivisão Policial, todo dourado e envolto em uma capa rosa, pronto para ser devolvido para a verdadeira dona. Durante o protocolo da papelada, o delegado Thiago Vicentini indiciou André Victor Fernandes Lourenço, 20 anos, e Vitor Hugo Dutra Mota, 22, pelo roubo, que, conforme o Código Penal, não rende fiança para os suspeitos.
Em uma conversa informal com um dos PMs que atenderam a ocorrência, a vítima ouviu o seguinte recado. "Ele me disse que eu fazia parte de uma reduzida estatística de 2% de pessoas que têm o celular restituído. Foi um alívio muito grande", observou. Mesmo mais calma, coube uma reclamação. "É lamentável que isso aconteça em um espaço bonito como aquele (Zerão). A gente trabalha duro para conquistar as coisas. Fica o trauma". Hoje, se quiser aproveitar a folga do almoço na rua, "o jeito é redobrar a atenção".
O processo começou a correr na 5ª Vara Criminal. Os rapazes continuam presos preventivamente, decisão de audiência de custódia. Em nota, o advogado de Vitor, José Henrique de Souza Zagatto, informou que "a decisão que manteve a prisão preventiva é totalmente desproporcional ao caso concreto, haja vista que a lei processual penal prevê medidas menos gravosas para que ele responda o processo em liberdade. Quanto ao merito, a defesa só se pronunciará após a instrucao processual".
A reportagem não conseguiu contato com a advogada de André Lourenço.