A juíza da 1ª Vara Criminal de Londrina, Elisabeth Kather, decidiu soltar nesta quarta-feira (9) os três rapazes suspeitos de envolvimento na morte da travesti Scarlet, 33 anos, no dia 10 de dezembro do ano passado na esquina da avenida Leste Oeste com a rua Cabo Verde, área central. A partir de agora, Anderson Aparecido dos Santos Pires, 28, Kenny Roger Fioravante Pereira, 26, e José Mauro Lopes da Silva, 25, usarão tornozeleiras eletrônicas e deverão ir todo mês ao Fórum para justificar as atividades.
A magistrada revogou as prisões preventivas porque o inquérito policial, que ainda não foi concluído, necessita de mais diligências. O aprofundamento das investigações deverá ser feito em até 90 dias. Segundo o promotor Ricardo Domingues, é impossível oferecer a denúncia sem documentos importantes, como o laudo do Instituto Médico Legal de necropsia da vítima, o do local de morte, o que comprova as lesões de outra travesti que presenciou as agressões e o exame toxicológico de uma porção de cocaina apreendida com os rapazes.
O Instituto de Identificação também foi oficiado para fornecer a perícia do carro, o confronto datiloscópico das impressões digitais coletadas e a análise da lâmina da faca usada para assasinar Scarlet. De acordo com a Polícia Militar, ela foi esfaqueada durante uma briga com os suspeitos. Eles informaram que a confusão generalizada começou depois que um tijolo teria sido jogado pela travesti no carro em que estava, um Citroen.
O advogado Alessandro Cogo, que defende Anderson Pires, argumentou que o jovem desferiu as facadas para se defender. "Entendemos que a decisão de soltá-lo não poderia ser diferente, até mesmo porque a apuração policial carece de mais fundamento. Desde o início, reforçamos que não há motivo de manter a preventiva. Da forma como o processo vinha caminhando, era uma antecipação de pena. Daqui pra frente, vamos insistir na tese de que ele agiu em legítima defesa. O Anderson usou dos meios necessários para se livrar das agressões que vinha sofrendo, tanto é que também ficou ferido", disse.
Cogo discordou da versão da Polícia Civil de que os suspeitos teriam passado pela Leste Oeste e iniciado as provocações. "Eles desceram depois que o carro foi atingido por um tijolo. Pararam para ver o que tinha acontecido e foram recebidos com violência pela Scarlet e a outra travesti". O advogado acredita que o motivo do objeto supostamente ter sido lançado pela vítima contra o veículo precisa ser melhor esclarecido. "No início, o Anderson pensou que seria roubado. Essa questão ainda está obscura, mas posso garantir que ele parou o carro depois da tijolada. Ele não tinha a menor intenção de matar. Foi uma fatalidade. É um fato isolado na vida dele" comentou.
A advogada Nayara Larissa de Andrade Vieira, responsável pela defesa de Kenny Roger Fioravante, foi na mesma linha de raciocínio. "Ele só entrou na briga para ajudar o amigo, no caso o Anderson. Não havia o objetivo de tirar a vida da Scarlet. Não há qualquer distinção de gênero ou problemas com a sexualidade dela".
O advogado Alessandro Rodrigues, que atua defendendo José Mauro Lopes da Silva, considerou a decisão judicial como "extremamente acertada, uma vez que, diante do excesso de prazo para conclusão do inquérito, a prisão tornou-se ilegal. Ainda não há como definir a linha defensiva, pois ainda não houve oferecimento de denúncia. No entanto, uma coisa é certa: José Mauro não matou e nem tentou matar qualquer pessoa", completou.