A juíza da 1ª Vara Criminal, Elisabeth Kather, optou em levar a júri popular o pintor Clayton Ramos da Silva Munhoz, 38 anos, acusado de matar com pelo menos quatro tiros o irmão, Edson Sidnei Munhoz, 45, no dia 24 de fevereiro em um bar da rua Guaiuvira, no jardim Leonor, região oeste de Londrina. O crime aconteceu perto das 14h de um sábado, foi presenciado por vários clientes e registrado por câmeras de segurança. As imagens do circuito interno do estabelecimento ajudaram a Polícia Civil a identificar o autor, que apresentou-se espontaneamente com um advogado na Delegacia de Homicídios dois dias após o homicídio.
Edson Munhoz deixou a esposa e dois filhos jovens, um de 26 e outro de 22 anos. Durante o interrogatório prestado ao delegado Ricardo Jorge, Clayton explicou que cometeu o assassinato após uma desavença antiga e que ainda não tinha sido resolvida com o sobrinho mais novo. Como os irmãos moravam nos fundos da residência dos pais no jardim Santa Rita, o acusado alegou que o rapaz estava consumindo bebida alcoólica e ouvindo música em alto volume. Ele teria pedido para baixar o som, mas não foi atendido. Irritado, o pintor deu um soco na porta, arrombando-a.
Foi então que Edson foi tirar satisfações com Clayton. Eles começaram a brigar, mas foram apartados pelo pai, o motorista Paulo Munhoz, 72. No dia seguinte, quando os familiares acreditavam que as pazes seriam feitas, outra confusão. Clayton decidiu sair de casa e, sentindo-se ameaçado, encheu um revólver calibre 38 de munições. Foi com esta arma que matou o irmão. Entretanto, pelo menos naquele momento, não quis resolver o conflito na bala.
Brigados, Edson e Clayton frequentemente se encontravam no estabelecimento palco do assassinato, o popular "bar do Renato". No dia do crime, o pintor tentou retomar a discussão, mas os dois novamente começaram a brigar. "A gente saiu no soco. Na hora que recebi o primeiro, saquei o revólver e dei o primeiro tiro. Mesmo baleado e com as pessoas correndo do bar, ele (Edson) veio pra cima de mim. Foi aí que descarreguei o pente", declarou o pintor ao delegado.
Aproveitando o alvoroço ocasionado pelos disparos, Clayton fugiu em sua moto, uma Twister preta. Segundo o inquérito policial, ele tentou esconder a arma na casa de um parente, que não aceitou a solicitação. Depois que se apresentou na delegacia, indicou o local que guardou o revólver aos investigadores da DH. "Eu não quis matar ele", afirmou.
Preso há mais de seis meses na Casa de Custódia, Munhoz foi denunciado pelo promotor Ricardo Domingues por homicídio qualificado por motivo torpe e porte ilegal de arma em 13 de março. No dia seguinte, o entendimento do Ministério Público foi aceito sem ressalvas pela juíza Elisabeth Kather, que manteve a prisão preventiva. Agora réu, Clayton teve uma nova oportunidade de falar à Justiça em maio, quase dois meses após cometer o crime. De cabelo raspado, ele repetiu "que não teve intenção de matar", mas relatou que "se tivesse outra arma, teria tirado a própria vida". Se for condenado, pode pegar até 20 anos de prisão.
Clayton disse que "não chamou o socorro porque estava perturbado. Eu me arrependo demais". Na decisão que culminou no encaminhado do caso ao Tribunal do Júri, a magistrada escreveu que "dada a gravidade do delito praticado e o modo com que o mesmo foi concretizado, supostamente, pelo réu, não se mostra idônea a substituição por qualquer outra medida cautelar de natureza pessoal".
O advogado Daniel Estevão Sakay Bortoletto, que defende Munhoz, tentou derrubar a detenção entrado com um habeas corpus no Tribunal de Justiça do Paraná, mas a liminar foi negada pelos desembargadores da 1ª Câmara Criminal. A defesa sustentou que o despacho de primeiro grau foi "ilegal e arbitrário" e sugeriu a aplicação de medidas cautelares.
Ainda não foi marcada a data de julgamento do pintor.