Estima-se que no Brasil exista 45 milhões de veículos em circulação atualmente, com uma média de 10 anos de uso. Assim, a previsão é de que, em uma década, grande parte desses automóveis seja descartados e substituídos por milhões de outros modelos que terão o mesmo destino dali mais alguns anos.
Esses veículos se tornam um grande problema no final da vida útil: grande parte se torna resíduo e descartes deixados em ferros velhos e aterros sanitários que custam (8 bilhões segundo relatório da ABRELPE de 2017) bilhões de reais por ano ao governo e se tornam mais uma causa de poluição no ambiente e contaminação no solo com seus resíduos.
Para diminuir a quantidade de resíduos provenientes de automóveis abandonados em ferros velhos e aterros sanitários e tornar esse ciclo de vida mais sustentável, a reciclagem, assim como o reuso de peças automotivas, são vistas como as melhores soluções para tornar mais sustentável o ciclo de vida do veículo. Sua composição corresponde a uma média de 18% de plástico, 7% de borracha, 55% de metais e 20% de outros materiais. Sendo assim, grande parte dos materiais podem ser reciclados e os que não passam por esse processo podem ser reutilizados em novos modelos fabricados.
Na Europa essa solução já não é mais uma novidade. Cerca de 85% dos automóveis que circulam entre os países do continente têm como destino a reciclagem ou suas peças são reutilizadas. Já no Brasil temos um cenário bem diferente. Estima-se que 98,5% da frota que chega ao final do seu ciclo de vida aqui termina em depósitos e desmanches e apenas 1,5% de todo veículo que sai de circulação tem um destino mais sustentável.
Como medida para tentar mudar essa realidade, em 2010 o Detran do estado do Rio Grande do Sul iniciou um projeto pioneiro no país com a reciclagem de carros a fim de reduzir o impacto ambiental causado pelos veículos parados nos depósitos e impedir o uso e comercialização ilegal de peças.
Em 2014, entrou em vigor no estado de São Paulo a lei do desmanche (Lei 12977 - 2014) com o objetivo de combater o desmanche ilegal, o comércio de peças usadas sem origem comprovada, regular o processo de desmontagem e o de reciclagem de metais. Essa é uma medida muito importante para colaborar com o ciclo de vida sustentável dos automóveis, uma vez que que o roubo, desmanche e comercialização de peças ilegais são fatores que dificultam atitudes mais sustentáveis por parte da indústria automotiva.
A falta de um programa de reciclagem veicular, de leis mais duras para combater o descarte inadequado e que permitam mais agilidade na reciclagem de veículos já fora de uso, deixa o Brasil muito atrasado na questão da sustentabilidade do ciclo dos veículos. E para que isso se torne uma realidade, como já acontece na Europa, por exemplo, seriam necessárias medidas por parte do governo para estimular a população a doar seus veículos velhos para a reciclagem com algum tipo de incentivo, além de parcerias com empresas do setor para desenvolver esse processo.
A reciclagem de veículos no Brasil beneficiaria o meio ambiente e a própria indústria automobilística. O uso de peças recicladas e reutilizadas saem a um custo muito menor, até mesmo por não precisar fazer a exploração de matéria-prima, um dos fatores que encarecem a produção de novos modelos.