Nem parece que há menos de quatro semanas o campeonato da Fórmula 1 estava começando com o plano de diminuição da extensão das zonas de DRS porque as ultrapassagens tinham ficado fáceis demais ao longo do ano passado. Após duas corridas, o movimento já é contrário. Os números negativos da primeira corrida no Bahrein chamaram a atenção e só não se repetiram na Arábia Saudita porque Max Verstappen e Charles Leclerc estavam largando fora de posição. E os pilotos estão relatando que a sensação de turbulência voltou a piorar.
A F1 passou por uma revolução nas regras em 2022 justamente para diminuir a turbulência gerada pelos carros, já que isso atrapalhava as disputas por posição. As regras deram tão certo, com um aumento de 30% no número de ultrapassagens, que a categoria começou 2023 encurtando as zonas de DRS (em que o piloto que está atrás pode ativar a asa móvel para ter mais chances de ultrapassagem).
Mas essa não é uma tendência que parece ter vindo para ficar. A temporada começou com apenas 37 ultrapassagens no GP do Bahrein, menos da metade das 78 manobras do ano passado e abaixo da média do GPs de 2014 para cá, que é de 65.
A terceira edição do GP da Arábia Saudita, que foi a segunda corrida do ano, teve 36 ultrapassagens. O número é superior às provas anteriores em Jeddah (32 em 2022 e 27 em 2021), mas boa parte das manobras foram feitas por Max Verstappen e Charles Leclerc, que largaram fora de posição e vieram escalando o pelotão.
Por um lado, existe um equilíbrio maior entre as equipes e isso dificulta as ultrapassagens. Aston Martin, Mercedes e Ferrari têm ritmo semelhante mais à frente. E esse também é o caso entre AlphaTauri, Haas, Williams e McLaren.
No entanto, o retorno dos pilotos vem preocupando a FIA, pois indica que há algo a mais. Carlos Sainz chegou a dizer depois de Jeddah que a sensação ao seguir um carro de perto "é parecida com aquela que tínhamos com os carros antigos". Leclerc e Verstappen engrossaram o coro após Jeddah.
Uma teoria é de que as mudanças feitas no assoalho para diminuir os saltos dos carros tenham colaborado para aumentar a turbulência. Isso porque agora as bordas do assoalho têm mais canais e aletas para desviar o fluxo de ar, e isso vai afetar o "rastro" que o carro deixa e que interage com o rival que vem atrás.
Se isso se confirmar, seria um problema e tanto para a FIA, uma vez que é difícil passar uma mudança de regulamento no meio do ano sem que haja alguma justificativa de segurança.
Um paliativo, que vai totalmente contra o que a F1 pretendia fazer, seria aumentar as zonas de DRS. Inclusive, na Austrália, corrida deste fim de semana, a quarta zona será reativada, embora isso não seja uma consequência direta das reclamações dos pilotos.
Os organizadores da corrida de Melbourne anunciaram que haverá uma nova tentativa de adicionar uma quarta zona de DRS na pista. Ano passado, a quarta zona foi testada nos treinos livres e depois retirada pela direção de prova. Mas os promotores dizem ter "um retorno positivo da FIA" indicando que eles voltarão atrás.
Apesar de o número parecer exagerado, é bom lembrar que as retas em Melbourne são curtas, então as três zonas de DRS já existentes não são suficientes para facilitar as ultrapassagens. Elas acabam servindo mais para que um piloto consiga ficar mais próximo, eliminando um pouco os efeitos negativos da turbulência. A quarta zona ficava entre as curvas 2 e 3 em 2022..