Acelerar em estradas de terra, vencer obstáculos como atoleiros e passar sem medo por buracos e pedras parecem aventuras distantes para os participantes de provas como o Rali dos Sertões.
Mesmo para quem faz viagens em um 4x4 para lugares como o deserto do Jalapão (TO), a serra da Canastra (MG) ou a praia do Cassino (RS), a emoção é outra.
Também não é o mesmo que se embrenhar em lamaçais em um jipe.
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Enquanto é possível fazer uma bela viagem a lugares ermos em um carro com tração nas quatro rodas convencional e enfrentar trilhas com veículos antigos e fortes, um rali de velocidade exige preparação extra de fábrica e equipe -e, portanto, mais dinheiro.
Fazer parte do seleto clube de pilotos de rali é caro. É um esporte que, a não ser que o piloto seja um influencer com uma longa lista de seguidores, dificilmente conseguirá bancar com patrocínios.
Mas já dá para sentir o gostinho de poeira sem todo o investimento necessário para tornar-se um piloto de rali, ou mesmo prová-lo para ter certeza de que o esporte lhe agrada.
É possível participar de uma das etapas da Mitsubishi Cup, um dos maiores rallies cross country de velocidade do Brasil, por R$ 17 mil. O valor é proibitivo para a maioria, mas engloba todos os custos que o esporte envolve, da luva ao capacete, do carro ao time de mecânicos.
"Começamos com um carro [ofertado]. Houve muita procura e agora estamos com quatro, e com fila de espera", diz Guiga Spinelli, piloto pentacampeão do Rali dos Sertões e diretor da Spinelli Racing, empresa parceira da montadora na organização da Mitsubishi Cup e que oferece a locação de carros para a prova.
É possível participar de uma competição por ano. Os carros são homologados pela Confederação Brasileira de Automobilismo e atendem a normas da Federação Internacional de Automobilismo, diz Spinelli. Quem contrata o serviço também tem direito a um treino de pilotagem com ele.
O repórter participou, a convite, de uma etapa da Mitsubishi Cup, em uma L200 Triton R (a Spinelli Racing oferece o Outlander Sport R), realizada em Mogi Guaçu (SP), em setembro. Embora não tenha participado oficialmente do campeonato, foi oferecido o mesmo trajeto dos pilotos profissionais.
Correr as três voltas de 31 km cada uma parecia tarefa fácil para quem já havia dirigido um 4x4 pelo deserto do Jalapão ou nas estradas da serra catarinense. A primeira volta, porém, já mostrou que o carro era de corrida, não de passeio, e que as coisas eram um pouco diferentes.
O banco em concha e o cinto de segurança de cinco pontas impedem qualquer movimento além do necessário para guiar o carro. O câmbio funciona de modo ligeiramente diferente; um painel indica o momento exato de troca de marchas para tirar o máximo de proveito do motor, que arranca com mais facilidade. O carro passa por obstáculos com facilidade, mas, para piloto de primeira viagem, é difícil acelerar com força.
Na segunda volta já há mais domínio do carro, a tensão das curvas fechadas diminui e a velocidade aumenta, os buracos e costelas de vaca na pista parecem menores, o tempo de percurso diminui. Tudo sob as orientações precisas do navegador, seja sobre o trajeto, seja sobre o melhor uso do veículo.
É o navegador que vai avisando da curva fechada à esquerda em 50 metros, descida acentuada a 200 metros, um retão que dá para aproveitar e pisar fundo -e fundo, é fundo mesmo. Afinal, trata-se de uma corrida.
O carro preparado passa muita segurança e permite que naquele ambiente controlado o piloto faça aquilo que fora da pista de corrida não dá para fazer. A diversão é grande.
Até que chega a hora da terceira volta, e o corpo descobre que automobilismo também é um esporte e, portanto, exige o preparo físico correspondente. A terceira volta ficou para os profissionais.
Os gastos que um piloto tem em cada prova da Mitsubishi Cup giram em torno de R$ 10 mil a R$ 20 mil, segundo participantes e organizadores, fora o carro. Aí estão inclusos jogos de pneus, manutenção, peças, transporte e diárias da equipe, entre outros.
E, para quem acha que basta comprar um 4x4 usado e prepará-lo para entrar nessa brincadeira, melhor refazer as contas. Provas homologadas exigem veículos preparados de fábrica, e há poucos deles por aí.
No seleto clube dos corredores de rali, quem tem um desses não vende.
Os últimos modelos preparados da Mitsubishi, por exemplo, haviam sido produzidos em 2017, com todos os itens de segurança incluídos. A montadora anunciou, em dezembro, uma nova leva de apenas dez unidades da L200 Triton Sport R preparadas para rali, por cerca de R$ 350 mil.
A caminhonete vem de fábrica com adaptações em itens como amortecedores, molas e pneus para enfrentar pistas esburacadas em alta velocidade e reprogramação do motor para entregar mais potência.
Para ficar mais leve, o modelo perde praticamente todo o acabamento interno e os bancos originais. Os vidros das portas são substituídos por acrílicos, e barras de proteção -o popular santantônio- dão mais proteção em caso de acidente.
O carro é homologado para todos os rallies do gênero, incluindo o dos Sertões.