Enquanto Gloria Pires celebrava 10 anos de casamento com o músico Orlando Morais em Portugal, em março de 1998, helicópteros sobrevoavam sua casa no Rio de Janeiro, onde supunham que a atriz tinha se suicidado com um tiro na cabeça depois de flagrar uma relação extraconjugal escandalosa entre o marido e a enteada adolescente, Cleo Pires. O boato que traumatizou a família virou tabu, e é revisitado mais de uma década depois na biografia "40 Anos de Gloria" (Geração Editorial), prevista para o mês que vem.
A compilação de vida e carreira de uma das principais atrizes do País foi elaborada pelo roteirista e amigo de longa data de Gloria, Eduardo Nassife, de 28 anos, e o escritor Fábio Fabrício Fabretti, de 36. Foi deles a ideia de incluir como capítulo especial o episódio que gerou dúzias de processos por difamação. "Gloria não gosta de falar nisso, é assunto morto para todos eles, mas topou ir a fundo. O tempo amenizou, mas não curou o trauma. Ela sempre vai lembrar do pesadelo", diz Nassife. "Apontavam o dedo para a Cleo na rua, em qualquer lugar. Ela não queria ir mais à escola, porque era debochada", diz Fabretti. "Orlando sofreu uma crise de hipertensão, virou uma paródia do Woody Allen", completa Nassife.
Gloria ainda teve de lidar com as notícias de tentativas de suicídio. "Enfermeiros do hospital Albert Einstein disseram que a Gloria tinha passado por lavagens estomacais devido a uma overdose por medicamentos, mas ela nem tinha ido a São Paulo", conta Nassife. "Depois surgiu a versão do suicídio, que foi desmentida porque era ela quem atendia ao telefone e surpreendia jornalistas. Até hoje ela não sabe de onde o boato surgiu." A solução para fugir daquele terror foi aproveitar um trabalho de Orlando em Los Angeles (EUA), para onde a família se mudou, e onde o casamento resistiu.
O início da carreira também é retratado. Precoce, Gloria Maria Claudia Pires - agora Morais -, acompanhava ainda pequena o pai, o comediante Antonio Carlos, nas gravações. Para ela, os estúdios eram grandes casinhas de boneca. Aos 5 anos, Gloria estreou na novela "A Pequena Órfã" (1968), da TV Excelsior. Em 1978, foi escalada para "Dancin’ Days", de Gilberto Braga, seu primeiro grande papel. A primeira protagonista veio no ano seguinte, em "Cabocla", em que começou a namorar Fábio Jr. Este episódio, porém, foi tratado meio à revelia da atriz.
Ganharam destaque em "40 Anos de Gloria" bastidores de gravações, o relacionamento com atores e diretores, a experiência de uma noite de Oscar com "O Quatrilho" (1996), testes reprovados, projetos fracassados e a consagração com "Vale Tudo" e "Mulheres de Areia". O prefácio será de Gilberto Braga e Aguinaldo Silva, e o capítulo final trará uma retrospectiva - "a melhor parte e mais tocante", para Nassife. Um adendo terá depoimentos de colegas sobre a atriz que, aos 46 anos, não pensa em aposentadoria. Gloria deve voltar à TV na próxima novela de Gilberto Braga. As informações são do Jornal da Tarde.