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Momento difícil

Amigos se despedem e lembram de talento de Guilherme Karam

Agência Estado
08 jul 2016 às 08:34

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- Reprodução
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Depois de dois anos de internação, morreu nessa quinta, 7, no Rio, aos 58 anos, o ator Guilherme Karam. Ele tinha a síndrome de Machado-Joseph, doença degenerativa hereditária rara, que lhe foi passada pela mãe, já falecida, e que provoca grave dano neurológico, comprometendo permanentemente a capacidade motora. Até o fechamento desta edição, ainda não havia informações sobre velório e enterro.

O ator, conhecido nacionalmente por seus papéis no humorístico TV Pirata, dos anos 1980/1990 (atualmente reprisado pelo Viva), começou a sentir os efeitos da síndrome há 11 anos, quando de seu último trabalho na TV, na novela América, da amiga Glória Perez.

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Ele era filho do almirante Alfredo Karam, que integrou o ministério no último governo do regime militar, de João Figueiredo (1979-1985) e acompanhou o filho até o fim da vida, mesmo já tendo 90 anos.

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O ator estava internado desde 2014 no Hospital Naval Marcílio Dias, unidade que atende militares da Marinha e seus familiares, e só se comunicava com os olhos - foram os únicos movimentos que haviam lhe restado.

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Karam se manteve o tempo todo lúcido, mas não conseguia mais falar. Deprimido por sua condição, evitava receber visitas nos últimos anos. O pai era a companhia mais constante. Ele acreditava que o filho, cujos personagens cômicos haviam feito sua fama, tivesse perdido por completo "a alegria de viver".


"A doença faz perder movimentos, deglutição, fala, mas a cabeça permanece lúcida. É de cortar o coração saber que meu filho percebe o que ocorre com seu corpo", declarou o militar em entrevista no ano passado. Antes de Guilherme, o almirante viu morrer a mulher e dois filhos em decorrência da mesma doença. Ele tem mais uma filha com a síndrome.

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Incurável, a doença de Machado-Joseph é causada por uma mutação genética e acomete duas pessoas em cada cem mil. Os sintomas iniciais, como a alteração do equilíbrio e da coordenação motora, que impedem a locomoção, a dificuldade na fala e na deglutição, começam a ser percebidos de forma sutil. Em geral, quando o indivíduo tem entre 35 e 50 anos. Depois das primeiras manifestações, o prognóstico de vida é de 25 anos, em média, com perda total da qualidade de vida e maior suscetibilidade a infecções.


Karam começou a senti-los aos 47, quando vivia o cubano Geraldito em América, e ficou impossibilitado de seguir trabalhando. A progressão da doença o levou à cadeira de rodas. Nessa quinta, 7, a autora Gloria Perez lamentou a perda numa despedida emocionada: "Meu melhor e mais querido amigo. Todos conhecem a dimensão do artista que ele era: múltiplo, intenso, completo. Mas muito poucos sabem o tamanho do ser humano, a alma delicada, solidária, capaz de grandes e generosos gestos. Amigo mais do que amigo - irmão", escreveu no Facebook.

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O primeiro papel de Karam na TV Globo foi em 1984, em outra novela de Gloria: Partido Alto, escrita em parceria com Aguinaldo Silva. Em 1988, estreou em TV Pirata, com amigos como Débora Bloch, Diogo Vilela, Luiz Fernando Guimarães, Regina Casé, Cláudia Raia e Ney Latorraca, entre outros.


"Ele não mantinha contato com mais ninguém, não tínhamos informações. Eu mandava boas vibrações de longe. Foi um sofrimento tão grande o que o Karam passou, que é difícil de comentar. Foi um alívio para ele", disse Diogo Vilela.

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"Eu perco um irmão, amigo da minha geração, um grande ator. Agora, eu reconheço ainda mais como ele era bom, preparado, versátil. Como disse Miguel Falabella, é uma pena que ele não tenha pego a fase dos espetáculos musicais, porque tinha uma voz linda e fazia aula de canto", lamentou o ator.


O maior destaque de Karam na TV Pirata foi como Zeca Bordoada, o apresentador grosseiro da TV Macho - um contraponto ao famoso TV Mulher - que urinava em pé no palco, só falava aos berros, andava armado e repetia o bordão "eu sou é muito macho!".

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Em 1990, Karan fez outro papel cômico bem popular, na novela de Cassiano Gabus Mendes Meu Bem, Meu Mal: o obsessivo mordomo Porfírio, apaixonado pela "Divina Magda", personagem de Vera Zimmerman.


O público infantil o conheceu em Super Xuxa Contra o Baixo Astral (1988), em que Xuxa vivia uma apresentadora de televisão que convoca as crianças para pintar muros pichados, e Karan era o Baixo Astral, um ser que habitava os esgotos e era seu antagonista na trama.

Ney Latorraca o conhecia há 38 anos - fizeram parte do elenco do filme O Grande Desbum (1978), de Antonio Pedro - e não o via desde 2005. "Era não só um grande ator, mas um artista plástico incrível. Eu não estava sabendo da doença", disse o ator. Incentivada por Karam no começo da carreira (eram vizinhos em Ipanema, e ele era conhecido de seu pai), a atriz Debora Lamm ressaltou sua generosidade. "Karam era uma referência no humor, um gigante. Para a minha geração, que cresceu assistindo à TV Pirata, um ícone."


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